segunda-feira, 8 de julho de 2013

O Brasileirão está de volta. E o caminho dos cariocas não será florido...


Crônica sobre a sexta rodada do Campeonato Brasileiro de 2013. 


A Copa das Confederações foi legal, até muito mais do que eu esperava. Alguns bons jogos, times jogando à vera, torcida enchendo estádios e o impulso para os protestos renderam um saldo positivo à competição FIFA. Mas estamos de volta.  Acabou a fantasia e estamos de volta para o que realmente importa. A alucinação do verdadeiro boleiro não é a Sapucaí das estrelas internacionais da FIFA, mas suportar o dia-a-dia e delirar com coisas reais.

Reais não como o Madrid e os milhões e milhões em moeda brasileira investidos pelo Barcelona para levar o que de melhor tínhamos até antes de junho. Real como ter Nei ostentando a braçadeira e cabeceando contra o patrimônio, real como ter Wallace e González tentando cobrir um Leonardo Moura a cada dia mais pachorrento, real como o talento de Seedorf. Real.

A sexta rodada do Campeonato Brasileiro foi apenas a sexta rodada da competição, mas não só. Foi a primeira depois de longa paralisação e a penúltima antes do fechamento da famigerada janela de transferências, que pode reordenar o painel do campeonato. Times que capengam podem se acertar com uma ou duas boas contratações – o nível entre os concorrentes é equilibrado assim – e concorrer ao que antes não cogitavam; times bem estruturados podem ver o barco fazer água com petrodólares de toda parte do globo carregando seus principais jogadores. O campeonato muda de figura nessa época.

O Botafogo, líder incontestável,  apresenta o futebol mais consistente até aqui, mas vive um dilema. Perdeu alguns jogadores, um deles especialmente importante (Fellype Gabriel rumou para o Sharjah FC, dos E.A.U.), mas nada que comprometa o desempenho de maneira definitiva. Por enquanto. Pior seria perder Lodeiro, Jefferson, Dória ou o próprio Seedorf, que são efetivamente a base de sustentação do (bom) time montado por Oswaldo de Oliveira. O dilema do Botafogo é saber se torce para acertar mais vendas, oxigenar os cofres do clube e manter salários em dia, ou se torce para que ninguém apareça com a valise cheia de dólares para desfigurar seu time como aconteceu em 2012. Enquanto o lobo não vem, o time segue a toada de vitórias e desponta como candidato ao título até segunda ordem. Uma vitória sobre o Fluminense tem um peso muito grande nesse campeonato, em que pese a desastrada organização do evento em Pernambuco, que atraiu meia dúzia de gatos pingados e rendeu três mariolas num jogo entre dois dos melhores times do campeonato valendo a liderança. Como disse o próprio Oswaldo após o jogo, “não é todo mundo que vai ganhar do Fluminense nesse campeonato”. Não é mesmo. O Fluminense é menos time do que foi, por exemplo, em 2010 e 2012, mas ainda leva poucos gols, defende com muita firmeza, tem jogadores decisivos na frente e dificilmente perde. Se o vento da janela de transferências não sacudir a laranjeira, segue candidato ao título.

Flamengo e Vasco jogam a lanterna dos afogados no clássico do próximo domingo em Brasília depois de mais um final de semana preocupante. O Flamengo parece ter encontrado um mínimo padrão de jogo, a bola deixou de ser inimiga número 1 do time, que já consegue trocar alguns passes e construir algumas situações de perigo. Isso já é muito mais do que aconteceu nas primeiras quatro rodadas. Mas a limitação técnica, emocional e, em alguns casos, física da maioria de seus jogadores restringe drasticamente o campo de ações durante as partidas. O Coritiba, nos pés de um maestro fantástico como Alex, tão infinitamente superior à maioria dos colegas em ação no campeonato, precisou de dez minutos para empatar um jogo que nem parecia fazer questão de ganhar. Empatou e ficou com a vice-liderança. A ver quando dura o fôlego do capitão coxa-branca. Se Alex conseguir manter esse rendimento por pelo menos 28 ou 30 rodadas, dificilmente o Coritiba não permanecerá na primeira metade da tabela.
Em Caxias do Sul, o Vasco não levou o chocolate que o 5 x 3 aplicado pelo Inter anuncia. Uma bisonha cabeçada de Nei contra o patrimônio esfriou ainda mais o gelado ânimo da nau vascaína no começo do jogo. Depois, o Inter não foi brilhante. Aliás, o Inter não é brilhante. Muitas vezes, nem é tão competitivo. Tem muitos jogadores com síndrome de vaga-lume. Ontem, apesar do frio e da chuva, D’Alessandro e Forlán estavam inspirados. E, logo cedo, colocaram o fraquíssimo time do Vasco em seu lugar. Apesar de jamais ter vislumbrado a possibilidade do empate durante o jogo, o Vasco foi encontrando brechas frequentes no preguiçoso sistema defensivo colorado. A ponto de conseguir, com suas enormes limitações, enfiar três no molhado barbante do Estádio Centenário.
A expectativa do Flamengo é ganhar o clássico, encaixar duas, três ou até quatro contratações consistentes (Leandro Castán e Sheik, que estão na pauta, são bons investimentos), ganhar a queda de braço com o Consórcio Maracanã e esperar dias melhores. Com salários em dia, com o Maracanã, com três jogadores de bom nível, em forma e com espírito competitivo, o Flamengo já pode concorrer a um G4, por exemplo. A expectativa do Vasco é menor. Espera convencer Paulo Autori de que um pouco mais de sua inacreditável paciência valerá a pena, espera fechar acordos com seus maiores credores para desafogar o fluxo de caixa, pagar salários em dia e fechar contratos de patrocínio, espera também ganhar o clássico para motivar seu elenco, contratar uma ou duas peças razoáveis (sua capacidade de investimento, por ora, é menor do que a do arquirrival) e se manter sem maiores sobressaltos no meio da tabela até o final do campeonato. Para ambos os times, o mais importante é planejamento para 2014. Mas existe 2013, e é preciso passar por ele antes sem grandes sustos.

O campeonato mais encruado do mundo está de volta. Longo, árduo, imperfeito. Necessário.

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