Crônica sobre a sexta rodada do Campeonato Brasileiro de 2013.
A Copa das Confederações foi
legal, até muito mais do que eu esperava. Alguns bons jogos, times jogando à
vera, torcida enchendo estádios e o impulso para os protestos renderam um saldo
positivo à competição FIFA. Mas estamos de volta. Acabou a fantasia e estamos de volta para o
que realmente importa. A alucinação do verdadeiro boleiro não é a Sapucaí das
estrelas internacionais da FIFA, mas suportar o dia-a-dia e delirar com coisas
reais.
Reais não como o Madrid e os
milhões e milhões em moeda brasileira investidos pelo Barcelona para levar o
que de melhor tínhamos até antes de junho. Real como ter Nei ostentando a
braçadeira e cabeceando contra o patrimônio, real como ter Wallace e González
tentando cobrir um Leonardo Moura a cada dia mais pachorrento, real como o
talento de Seedorf. Real.
A sexta rodada do Campeonato
Brasileiro foi apenas a sexta rodada da competição, mas não só. Foi a primeira
depois de longa paralisação e a penúltima antes do fechamento da famigerada
janela de transferências, que pode reordenar o painel do campeonato. Times que
capengam podem se acertar com uma ou duas boas contratações – o nível entre os
concorrentes é equilibrado assim – e concorrer ao que antes não cogitavam;
times bem estruturados podem ver o barco fazer água com petrodólares de toda
parte do globo carregando seus principais jogadores. O campeonato muda de
figura nessa época.
O Botafogo, líder
incontestável, apresenta o futebol mais
consistente até aqui, mas vive um dilema. Perdeu alguns jogadores, um deles
especialmente importante (Fellype Gabriel rumou para o Sharjah FC, dos E.A.U.),
mas nada que comprometa o desempenho de maneira definitiva. Por enquanto. Pior
seria perder Lodeiro, Jefferson, Dória ou o próprio Seedorf, que são
efetivamente a base de sustentação do (bom) time montado por Oswaldo de
Oliveira. O dilema do Botafogo é saber se torce para acertar mais vendas,
oxigenar os cofres do clube e manter salários em dia, ou se torce para que
ninguém apareça com a valise cheia de dólares para desfigurar seu time como
aconteceu em 2012. Enquanto o lobo não vem, o time segue a toada de vitórias e
desponta como candidato ao título até segunda ordem. Uma vitória sobre o
Fluminense tem um peso muito grande nesse campeonato, em que pese a desastrada
organização do evento em Pernambuco, que atraiu meia dúzia de gatos pingados e
rendeu três mariolas num jogo entre dois dos melhores times do campeonato
valendo a liderança. Como disse o próprio Oswaldo após o jogo, “não é todo
mundo que vai ganhar do Fluminense nesse campeonato”. Não é mesmo. O Fluminense
é menos time do que foi, por exemplo, em 2010 e 2012, mas ainda leva poucos
gols, defende com muita firmeza, tem jogadores decisivos na frente e
dificilmente perde. Se o vento da janela de transferências não sacudir a
laranjeira, segue candidato ao título.
Flamengo e Vasco jogam a lanterna
dos afogados no clássico do próximo domingo em Brasília depois de mais um final
de semana preocupante. O Flamengo parece ter encontrado um mínimo padrão de
jogo, a bola deixou de ser inimiga número 1 do time, que já consegue trocar
alguns passes e construir algumas situações de perigo. Isso já é muito mais do
que aconteceu nas primeiras quatro rodadas. Mas a limitação técnica, emocional e,
em alguns casos, física da maioria de seus jogadores restringe drasticamente o
campo de ações durante as partidas. O Coritiba, nos pés de um maestro
fantástico como Alex, tão infinitamente superior à maioria dos colegas em ação
no campeonato, precisou de dez minutos para empatar um jogo que nem parecia
fazer questão de ganhar. Empatou e ficou com a vice-liderança. A ver quando
dura o fôlego do capitão coxa-branca. Se Alex conseguir manter esse rendimento
por pelo menos 28 ou 30 rodadas, dificilmente o Coritiba não permanecerá na
primeira metade da tabela.
Em Caxias do Sul, o Vasco não levou
o chocolate que o 5 x 3 aplicado pelo Inter anuncia. Uma bisonha cabeçada de
Nei contra o patrimônio esfriou ainda mais o gelado ânimo da nau vascaína no
começo do jogo. Depois, o Inter não foi brilhante. Aliás, o Inter não é
brilhante. Muitas vezes, nem é tão competitivo. Tem muitos jogadores com
síndrome de vaga-lume. Ontem, apesar do frio e da chuva, D’Alessandro e Forlán
estavam inspirados. E, logo cedo, colocaram o fraquíssimo time do Vasco em seu
lugar. Apesar de jamais ter vislumbrado a possibilidade do empate durante o
jogo, o Vasco foi encontrando brechas frequentes no preguiçoso sistema
defensivo colorado. A ponto de conseguir, com suas enormes limitações, enfiar
três no molhado barbante do Estádio Centenário.
A expectativa do Flamengo é ganhar
o clássico, encaixar duas, três ou até quatro contratações consistentes
(Leandro Castán e Sheik, que estão na pauta, são bons investimentos), ganhar a
queda de braço com o Consórcio Maracanã e esperar dias melhores. Com salários
em dia, com o Maracanã, com três jogadores de bom nível, em forma e com
espírito competitivo, o Flamengo já pode concorrer a um G4, por exemplo. A
expectativa do Vasco é menor. Espera convencer Paulo Autori de que um pouco
mais de sua inacreditável paciência valerá a pena, espera fechar acordos com
seus maiores credores para desafogar o fluxo de caixa, pagar salários em dia e
fechar contratos de patrocínio, espera também ganhar o clássico para motivar
seu elenco, contratar uma ou duas peças razoáveis (sua capacidade de
investimento, por ora, é menor do que a do arquirrival) e se manter sem maiores
sobressaltos no meio da tabela até o final do campeonato. Para ambos os times,
o mais importante é planejamento para 2014. Mas existe 2013, e é preciso passar
por ele antes sem grandes sustos.
O campeonato mais encruado do
mundo está de volta. Longo, árduo, imperfeito. Necessário.
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