terça-feira, 30 de novembro de 2010

Assim fica difícil, Blatter


A poucos dias das eleições das sedes dos próximos Mundiais (2018 e 2022), o presidente da Conferedação sul-americana (CONMEBOL), Nicolás Leoz (Paraguai); o líder da Confederação Africana de Futebol, Issa Hayatou (Nigéria); e o máximo responsável pela CBF, Ricardo Teixeira (Brasil), foram acusados de corrupção.

Segundo o diário suíço Tages-Anzeiger, os três dirigentes figuram em uma lista secreta de pagamentos ilegais da empresa ISL, que comercializava os direitos de eventos esportivos organizados pela FIFA e que faliu em 2001. Em 2008, durante um proceso contra a empresa, soube-se sobre pagamentos ilegais a dirigentes da entidade máxima do futebol, do Comitê Olímpico Internacional e de outras federações por um valor de US$ 180 milhões.

Teixeira, presidente da CBF desde 1989 e ex-genro de João Havelange – ex-presidente da FIFA e que o apontou, nos últimos dias, como sendo o melhor sucesor para Blatter-, está acusado de ter recebido, entre 1992 e 1997, através de uma empresa fantasma em Liechtenstein, uma quantia próxima aos 12 milhões de dólares. Leoz tem uma acusação similar contra por US$ 950 mil, e Hayatou, que em 2002 competiu con Blatter para o cargo de presidente da FIFA, por US$ 25 mil.

As acusações chegam em um momento crítico para o órgão, que no último dia 18 suspendeu dois dos 24 membros do Comitê Executivo por outras acusações de corrupção. O nigeriano Amos Adamu e o taitiano Reynald Tamarii foram afastados de qualquer atividade relacionada com o futebol por tentarem vender seus votos a dois jornalistas do diário inglês The Sunday Times que simulavam ser lobistas da candidatura do seu país. A rede de TV britânica BBC prometeu "fazer mais revelações" sobre a corrupção na FIFA, através de seu programa de investigação, “Panorama”.

A reportagem surgiu a menos de 72 horas da decisão final do Comité Executivo que irá escolher entre as candidaturas de Portugal /Espanha, Inglaterra, Rússia e Holanda/Bélgica. Nas últimas semanas, foram muitas as pressões do governo inglês, personificadas nas queixas do primeiro-ministro David Cameron, para que a investigação não fosse divulgada. Mas as pressões foram em vão e o trabalho, de 30 minutos, foi para o ar.

Fica, então, além do temor por parte da Inglaterra de ser prejudicada na votação da FIFA, a certeza do mundo da bola de que a autenticidade desse importante órgão, há muito, tornou-se uma grande incógnita.


Por Roberto Passeri.

sábado, 27 de novembro de 2010

Palmeiras e os Dez Anos de Decepção



Desde a Academia de Ademir da Guia não se via um Palmeiras como aquele. Na década de Noventa, a equipe da colônia italiana em São Paulo Ganhou quase tudo. Foram anos dourados, incontáveis craques e títulos infindáveis. Contudo, o que ocorria por trás dos bastidores passava desapercebido.

O volume de dinheiro que transitou pelos clubes brasileiros naqueles anos é imensurável. Fundos de investimento como a Hick & Muse e a ISL despejaram milhões de dólares no mercado futebolístico verde e amarelo. Com a globalização e a procura por novos mercados, o esporte mais querido do país se tornava um sedutor alvo para investimentos estrangeiros.

Na época, havia uma crença na formação de uma liga, tal qual a NBA norte-americana, para abrigar o melhor campeonato de futebol do Planeta. O Clube dos Treze, que reúne os treze maiores clubes do Brasil, seria a base para essa revolucionária empreitada. Não obstante, os investidores não tinham levado em conta quem eram os responsáveis por administrar esse infindável fluxo de capital.

Os Cartolas, figuras folclóricas no país, teriam essa tarefa. Eles são a representação mais fidedigna do retrocesso do futebol nacional. Com a péssima maneira com a qual essas figuras conduzem suas equipes, o mercado brasileiro foi se mostrando cada vez menos atraente e o sonho de uma glamorosa liga, cada vez mais inatingível.

Entretanto, a falta de capacidade de gestão desses dirigentes é tão assustadora que eles não foram capazes de notar a escassez iminente dessas fontes financeiras. Com isso, endividaram os clubes com cifras impossíveis de serem pagas. Os atletas começaram a sentir no bolso tal incompetência da administração, uma vez que até mesmo seus salários foram deixados de ser pagos.

Nesse horizonte, o Palmeiras também foi perdendo jogadores, glamour e a posição de destaque internacional que alcançara. Além de todo caos financeiro, ainda ocorreu internamente uma briga incessante entre oposição e situação. Com todas essas mazelas, o tradicional clube não resistiu: em 2002, o Verdão foi rebaixado para Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro.

Por mais que o time tenha subido para a divisão principal no ano seguinte, as coisas em pouco mudaram. A péssima estrutura que impera no Palestra Itália ainda é fruto dos inconseqüentes gestores e dos mal administrados milhões que estiveram no Palmeiras na década anterior.

Com isso, tornam-se mais compreensíveis os péssimos resultados recentes dessa agremiação. Uma análise superficial pode delegar aos aspectos técnicos e táticos a causa de tantos fracassos. No entanto, reside na incompetência dos gestores a causa dessa estiagem de títulos de grande importância.

Por Helcio Herbert Neto

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Série Marginalizados: Las Brujas



Ao som de: Maná/Santana - Corazón Espinado


Era final da década de 60, e a Argentina vivia um momento político-social conturbadíssimo, assim como quase toda a América do Sul. O golpe militar de 66, que derrubou o presidente Arturo Illia, autodenominou-se “Revolução Argentina”, porém a revolução dos hermanos era outra, e ocorria bem longe da Casa Rosada.

Juan Ramón Verón era o astro maior da equipe do Estudiantes de La Plata que revolucionou o futebol argentino com suas conquistas. La Bruja (“A Bruxa”), como ficou conhecido pelo formato do nariz, conduziu a equipe “pincharrata” ao tricampeonato da Taça Libertadores (68, 69, 70) e ao maior título da história do clube, o Mundial Interclubes, em 68.

Ramón Verón fazia legiões de fãs carregando a bola da esquerda para o meio em velocidade, levando-a de fora para dentro em verdadeiros gols de placa. De fora para dentro também levava o Estudiantes pelo país: de Ciudad de La Plata para Buenos Aires, quebrando o domínio hegemônico dos clubes da capital.

Anos depois, com a estirpe futebolística nos genes, nascia Juan Sebastián Verón, no mesmo dia em que seu pai havia marcado o gol da vitória do Estudiantes num clássico contra o eterno rival, Gimnasia La Plata, em março de 75. Fanático desde pequeno pelo Estudiantes, Juan Sebastián cresceu ouvindo histórias de conquistas do pai e, aos 19 anos, já estreava com a camisa profissional do clube amado, ainda que cedo fosse levar seu talento para fora.

Juan Sebastián, ou La Brujita – diminutivo do apelido do pai – atuou ao lado dos melhores jogadores do mundo e colecionou títulos nas seis temporadas em que atuou na Europa, entre eles um Campeonato Inglês pelo Manchester United e um Italiano, pela Internazionale. Também participou do fracasso da Seleção Argentina na Copa de 2002 e, como grande parte desse time, foi subestimado.

Aos 31 anos e sem achar seu bom futebol, Juan Sebastián deixou de lado o contrato milionário com a Internazionale e voltou para casa, em busca do sonho de infância e de cumprir sua “missão”. A mesma alcunha, a mesma camisa 11, o mesmo destino. La Brujita reencontrava seu futebol maestrino ao longo da competição, e a Taça Libertadores cada vez mais parecia reencontrar o seu destino: La Plata, Las Brujas.

E assim foi. Trinta e nove anos depois de atuações épicas de Ramón Verón conduzirem os “pincharratas” a conquista da América, Sebastián Verón selou categoricamente seu destino, como se o Estudiantes tivesse parado no tempo para esperar o surgimento de seu mais novo heroi, ou melhor, de sua mais nova bruxa.


Por Roberto Passeri.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Regulamentação da mídia não é sinônimo de censura


"(...) Ao que tudo indica, todos estão surdos. Fala-se em controle social e os donos de jornais e tevês escutam “censura”. Nos principais sites informativos dos maiores grupos noticiosos, durante os dois dias em que aconteceu o Seminário Internacional de Comunicações, o projeto idealizado pelo governo era descrito como de “controle da imprensa”. Por trás da preocupação com a liberdade de expressão, porém, esconde-se o real temor, por parte das “nove ou dez famílias” que controlam a comunicação no país (para usar as palavras do presidente Lula) de que o projeto do governo represente desconcentração do setor.

Segundo o ministro de Comunicação Social, Franklin Martins, cada país possui seu próprio modelo regulatório de imprensa, e o Brasil ainda vai escolher o seu. O exemplo da Argentina é instigante. A lei sancionada há um ano pela presidente Cristina Kirchner não tem nada a ver com a venezuelana, como se acusa, e sim com os modelos canadense e norte-americano. “Como no Brasil, também fomos chamados de ‘chavistas’”, conta Bulla. “Isso se faz para colocar medo nos cidadãos.” O que não significa que os argentinos não foram ousados em sua proposta. Não à toa, o maior grupo de comunicação do país, o Clarín, vive às turras com o governo e é considerado “o maior partido de oposição” a Kirchner.

Se já há tanta polêmica no Brasil em torno do marco regulatório, imaginem se fosse feito aqui o que ocorreu na Argentina: em agosto do ano passado, a transmissão das partidas de futebol foi simplesmente "estatizada". Bulla conta que, como os jogos eram transmitidos via TV a cabo, isso fazia com que uma parte enorme da população não tivesse acesso ao futebol a não ser em locais públicos, como restaurantes, bares e pizzarias. O governo decidiu, então, negociar com a AFA (Associação de Futebol Argentino) a compra dos direitos de transmissão e propôs pagar o dobro do que oferecia o Clarín e a empresa Torneos y Competencias, detentores dos direitos havia 18 anos.

Desde então, todo mundo tem acesso aos jogos via TV estatal, o canal 7. “Eles tentaram ir à Justiça contra a decisão do governo, mas não conseguiram nada”, conta Bulla, citando uma frase do popular locutor esportivo Victor Hugo Morales: “Os direitos exclusivos do futebol foram o cavalo de Tróia da concentração dos meios de comunicação na Argentina”. Além de democratizar o acesso ao futebol, a lei significou não só desconcentração econômica como cultural.

Antes, como as rádios de todo o país apenas repetiam a programação vinda de Buenos Aires, um habitante da Patagônia, por exemplo, acordava com notícias sobre o tráfego na capital e não sobre sua própria região. “Isso matava as manifestações regionais de cultura”, diz Gustavo Bulla. Com a nova lei, a mera repetição de conteúdo foi restringida, assim como a possessão de até 24 concessões por um mesmo grupo de comunicação.

O que é bom para a Argentina talvez seja bom para o Brasil – e aí reside o verdadeiro temor dos donos da imprensa, não fictícios atentados à liberdade de expressão. Só falta o governo brasileiro querer questionar também as exclusividades milionárias das transmissões desportivas. Isto também seria considerado censura?"


De Cynara Menezes (Carta Capital), por Roberto Passeri.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A Noite do 10

A noite do 10 - Entrevista com Pelé - Parte 1

A noite do 10 - Entrevista com Pelé - Parte 2


Nos números, não há questionamentos. Desde os dezesseis anos, Pelé começou a construir uma carreira com vitórias inquestionáveis. Aqueles que nasceram no mesmo país, mas após o fim da carreira do Rei, ratificam a majestade desse grande jogador. Contudo, próximo daqui, na Argentina, há outro ídolo inquestionável.

Maradona não possui grandes números, contraria as estatísticas. Nunca foi campeão continental por seus clubes, acumulou desentendimentos com presidências e com outros grandes jogadores, ficou longos períodos longe dos gramados por contusões. Entretanto, em atuações nada convencionais, obteve a idolatria de milhões e milhões de torcedores.

Assim se fez no Napoli e, principalmente, na Seleção Argentina. Com um estilo despojado, lúdico e irreverente, Don Diego assombrou adversários. Além de erguer taças por suas equipes, ele proporcionou momentos inesquecíveis a seus fãs, gerando uma embriaguez de felicidade.

É injusta a comparação entre essas duas figuras, tal como tentar descobrir qual deus era mais poderoso na Grécia Antiga, Apolo ou Dionísio. Perfis opostos e complementares; a estabilidade de uma carreira irretocável ou a esquizofrenia de surtos de um personagem capaz de levar ao êxtase o público.

Por isso se faz tão singular esse momento produzido no Programa La Noche Del 10, apresentado por Maradona há cinco anos. Oportunidade ímpar de presenciar a interação harmônica entre esses dois pólos de estilo, seja dentro ou fora de campo.
Por Helcio Herbert Neto.