quinta-feira, 17 de julho de 2014

Eterno retorno

Tudo volta. Se houver trabalho, será possível encantar novamente. (divulgação/Governo do Estado do Rio)

Para ouvir ao som de Bat Macumba - Os Mutantes

Somente quando onze senadores trajando ternos sofreram a pior derrota do esporte brasileiro que foi possível enxergar a aurora de novos dias, da glória. Foi diante de uma multidão que representava 10% da população do Distrito Federal e de juras de que nunca mais o brasileiro poderia ser grande, que o destino mesmo era ver os grandes do norte brilhar. Foi há muito tempo. Tanto que todos já esqueceram.

Sessenta e quatro anos quase exatos. A metáfora que compara os jogadores da Seleção Brasileira aos políticos foi publicada na imprensa após a vitória do Uruguai em 1950, na primeira Copa do Mundo realizada em território nacional. Na época, o time de Zizinho, Ademir e Jair tinha a responsabilidade de fincar no seio do Brasil o futebol como elemento da identidade do país. Uma nação ainda sem muita cara, que começava a se urbanizar e que punha nas costas dos jogadores o peso de mostrar quem era essa nação.

Dessa vez, em 2014, o fardo vinha das ruas. As manifestações de 2013 serviram de incentivo para a vitória na Copa das Confederações. A geração que mergulhou nos protestos e fez uma lista de reivindicações teve representação nos gramados da competição-teste para a Copa. No ano seguinte, isso não foi suficiente para a conquista do Mundial. Durante a preparação,a defasagem do futebol praticado aqui foi escondida pela figura de um técnico carismático, pouco atualizado. 

De súbito, esqueceu-se que, na história, os treinadores nunca foram os personagens principais da Seleção. Talvez o detentor do maior brilho tenha sido Felipão, o mesmo que tomou sete gols contra a Alemanha. Scolari também liderava o Brasil quando este venceu os germânicos na final da Copa de 2002. Derrocada dos tricampeões desencadeou uma série de transformações estruturais no futebol alemão. Pouco mais de 12 anos, aqui estavam eles, erguendo a taça do mundo.

Outros sinais do eterno retorno do futebol, esporádicos, apareceram durante o segundo Mundial em solo brasileiro. Júlio César, questionado, saiu da Copa imaculado. Os erros de 2010 se desmancharam na memória quando o goleiro foi herói na disputa dos pênaltis contra os chilenos. Sim, a mesma seleção que o time de Dunga teve que enfrentar nas oitavas da competição na África do Sul. Neymar parou de brilhar em 2014 por problemas graves de saúde, assim como Ronaldo em 1998. A idade de ambos: 22 anos.

Podem ser coincidências. Isso sempre é possível. Esse será o argumento de oportunistas, que bradam o apocalipse do futebol brasileiro. A última passagem recorrente no histórico da Seleção Brasileira é quase final na discussão com os que, para arrebatar a audiência, dizem que esse esporte nunca mais terá o Brasil como ícone transnacional: é tradicional, após grandes traumas há o ressurgimento.

Foi assim após a batalha campal entre brasileiros e húngaros, em 1954, depois das discussões sobre a divisão dos prêmios dentro do time de Sebastião Lazaroni, em 1990, e na sequência da derrocada diante dos franceses, em 1998. Para destilar a frustração, todavia, é preciso trabalhar.

por Helcio Herbert Neto.