quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Mais Kloses no futebol, e na vida.



(Foto: Renan Olaz/Futura Press/Agência Estado)

Uma sociedade desonesta, onde a maioria sempre tenta passar por cima do próximo em benefício próprio. Na política, honestidade é palavra rara, sujeira e corrupção reinam em terras tupiniquins. Em todos setores da pátria amada é assim. E no esporte que é paixão nacional não é diferente.

Esta última semana de futebol foi uma vergonha. No último domingo, Hernán Barcos, do Palmeiras, fez um gol à la Maradona na Copa do Mundo de 1986: com a mão. O juiz Francisco Carlos Nascimento caiu na do argentino e validou o gol, mas logo em seguida, ainda não se sabe se por interferência externa ou não, marcou toque de mão de Barcos. Sem entrar na polêmica da tecnologia no futebol, e sim na tentativa de iludir o árbitro por parte dos jogadores, não só do argentino, mas da maioria, seja cavando faltas, colocando a mão na bola, o fato é que isso virou rotina, principalmente no futebol brasileiro. Nessa quarta-feira, Lúcio Flávio, do Paraná repetiu a atitude do atacante palmeirense. O gol do time do Paraná foi validado, por sorte não influenciou no resultado: derrota para o ABC em casa.

Ouvi argumentos de que enganar o árbitro é um artifício válido que os jogadores têm durante uma partida. Espero que essa não seja a opinião da maioria. Concordar com isso, é aceitar a enganação em todos os meios da sociedade, não só no esporte, não vejo diferença. Mas se bem que o povo brasileiro, em sua maioria, já vem aceitando ser enganado há muito tempo.

Atitudes como a de Miroslav klose, atacante alemão, que avisou ao juiz que havia marcado um gol irregular quando o jogo ainda estava 0 x 0, devem virar rotina. Barcos disse que se fizesse isso, a torcida do Palmeiras o mataria e ainda tentou justificar dizendo que só fez o gol com a mão por ter sofrido falta no lance.

O que acontecesse no futebol, é um reflexo do que acontece na vida de todos os brasileiros. Enquanto tivermos políticos que enganam a sociedade, cidadãos que se se acomodam com a desonestidade dos que governam e pessoas comuns que tentam se dar bem às custas do próximo, teremos as mesmas atitudes dentro das quatro linhas, e notícias como a de Klose, ou de um simples morador de rua que devolveu vinte mil reais, mesmo sem ter o que comer, serão cada vez mais raras.


Por Felipe Exaltação







domingo, 28 de outubro de 2012

O que aprendi jogando Winning Eleven



Já passava das cinco, mas o horário de verão forçava um sol incômodo por entre a cortina desbotada da sala. Beto, o irmão mais novo, e Bruno, o mais velho, apertavam os olhos para conseguir enxergar a tela da TV minada pelo reflexo. Era janeiro de 2000, o mundo não tinha acabado como alguns anunciaram, e fazia um calor infernal naquela terça-feira pachorrenta de férias escolares no subúrbio do Rio.

O ventilador velho encontrava forças para fazer ecoar um tac-tac irritante no ambiente graças à concentração muda no Brasil e Argentina virtual. Beto, oito anos a menos nas costas, fora autorizado a jogar com a simpática seleção canarinho; Bruno escolhera a Argentina porque, naquela época, não sobravam muitas opções. Gabriel Batistuta havia anotado o único gol da partida. Sabiam se tratar de Batistuta por causa da camisa 9, do cabelo comprido e do chute forte, pois o jogo era todo em japonês e decifrável somente por tentativa e erro. Era Winning Eleven 4, para Playstation 1, ambos adquiridos muito a contragosto por Beto um mês antes, em seu aniversário de 8 anos. O caçula, acostumado a jogar Nintendo 64 na casa dos amigos, queria um videogame igual. Bruno, mais velho e mais esperto, insistiu que a plataforma da Sony com sua tecnologia de CDs era mais avançada e mais divertida.

No ano seguinte, já absolutamente viciados, podiam desfrutar do jogo totalmente em português e com times brasileiros graças ao fenômeno da pirataria. Os camelôs ofereciam dezenas de mutações do jogo original, mas raramente alguma prestava, então escolhiam três ou quatro capas ao acaso e rezavam para ter acertado em alguma. Não exigiam muito, só precisavam de um Flamengo e Vasco digno (ambos eram rubro-negros, mas Bruno também cedia neste ponto). Era Flamengo, isento dos problemas internos da época, de Júlio César, Gamarra, Juan, Petkovic, Adriano e Edílson contra o Vasco de Júnior Baiano, Felipe, Juninhos – Pernambucano e Paulista -, Pedrinho, Viola e Romário.

Beto era uma espécie de fenômeno precoce, tinha uma habilidade assustadora com os controles do jogo, mas pecava na indisciplina tática e na falta de preparo psicológico - sim, era preciso. Bruno apreciava uma retranca, um futebol frequentemente menos vistoso, mas indiscutivelmente eficiente. E qualquer 1 a 0 era suficiente para fazer surgir as marchinhas de carnaval adaptadas e danças desengonçadas ao fim da partida. O caçula tinha o sangue nos olhos, mas engolia aquilo e esperava pela forra. Nunca desligou o videogame de súbito ou se recusou a jogar; de uma forma ou de outra, aprendeu que a culpa pelo fracasso era somente sua, ainda que resmungasse contra o árbitro virtual ou qualquer outra coisa sem cabimento. Arrastava os pés para o beliche de cima, e deitava com os olhos fixos a meio metro do teto, refazendo os lances na cabeça, ávido pela chance de se recuperar no dia seguinte.

Naquela época, a semana se resumia ao ensino fundamental, que tirava de letra, aos desenhos animados e, acima de tudo, ao Winning Eleven. Quando saltava da van, na esquina de casa, já podia sentir o cheiro de competição – o videogame já estaria ligado o aguardando. Apesar de quase obsessivos, os dois nunca brigaram, muito pelo contrário. A diferença de idade impunha um respeito enorme – admiração pelo lado mais forte, zelo pelo lado mais fraco. E, com música que criança não ouve, Bruno ia moldando o irmão mais novo, tomando cuidado para nele não respingar suas angústias. Era uma osmose cultural, ou uma espécie de artesanato de valores pessoais.

Beto saiu da infância, e com o Playsation 2 e um Winning Eleven drasticamente melhor, trouxe consigo dos EUA a vontade de entender absolutamente tudo. O irmão o esperava, também mais maduro, disposto a instalar o novo tesão na sala e a lhe contar o que sabia sobre o mundo. A distância entre eles já não era tão abissal, e a busca por respostas, o florescimento da sexualidade e a descoberta da escrita por parte do irmão mais novo, de um modo engraçado, casava com a busca irrestrita pelos prazeres da juventude de um jovem aflito, recém ingressado na faculdade de Jornalismo.

Chegavam a jogar dois ou três campeonatos de quatro horas de duração num dia. Beto não mais torcia o nariz quando Bruno se lembrava de um bom jogo na TV e interrompia o vício – o caçula aprendera a gostar e até já entendia bem do futebol real. Varavam noites, extasiados, e ouviam os socos na parede desferidos pela irmã do meio que não conseguia dormir. Certa vez, lá pelas quatro da manhã, Nero, o até então desconhecido vizinho do andar debaixo, esmurrou a porta e prometeu chamar a polícia caso a gritaria não cessasse. Entreolharam-se, complacentes, mas dali a pouco a bola cruzou rasante a área de um dos dois e "UUUUUUUUH!!". Era involuntário.

De sono pesado, a mãe só tomava conhecimento do “circo”, como costumava dizer, no café da manhã, totalmente estarrecida. Os dois riam, não tinham mais o que fazer, e apontavam disfarçadamente com o queixo na direção da sala, gesto sutil para “uma partidinha” antes da chatice do dia a dia.

Cada vez era mais raro que Bruno passasse os fins de semana em casa, e não era estranho que escapasse algumas terças e quintas também. Beto até conseguia compreender, mas se contorcia por dentro. Desmilinguido na cama, não sabia se queria que chegasse a hora de sua vida boêmia também, ou simplesmente que o irmão mais velho abdicasse àquilo tudo para jogar e ficar conversando sobre coisas alheias. Pelo caçula, agora que o videogame havia migrado para o quarto acompanhado de uma TV melhor, poderiam passar os sete dias da semana ali dentro, rindo, cantando músicas de torcida e ignorando todo o resto. A escola tornara-se chata, ainda não tinha muita sorte com as meninas que gostava, e sua paixão passou a ser ler os textos de Bruno e tentar fazer parecido, até superá-los, como já conseguia fazer com bastante frequência no futebol virtual.

Um dia, o que já se anunciava veladamente aconteceu, e o irmão mais velho, um tanto quanto afoito e apaixonado, deixou o ninho, saiu de casa. Tão vorazmente partiu que não houve muito tempo para despedidas e nem organização para exportar seu armário. Suas roupas ficaram ali, amarrotadas como sempre estiveram, esperando o dono, bem como as perguntas que Beto ainda tinha a fazer. O irmão mais novo chorou, chorou muito, e chorou tomado por uma tristeza que nunca havia conhecido, mesmo tendo lembranças da traumática separação dos pais. Sem Bruno lá, foi obrigado a escrever sozinho para preencher o vazio.

Ligou o videogame e, pela primeira vez, foi o jogador número 1. Ali, naquele menu, entendeu que Bruno, mesmo sem querer, lhe guiara novamente. Lembrou-se de todos os campeonatos jogados, de Nirvana, Pearl Jam, Caetano, Gil, João Gilberto, da paixão incondicional pelo Flamengo, de García Márquez, Cortázar, Kerouac, Bukowski, Tarantino, Kubrick, e se sentiu arrogantemente um ser superior a toda humanidade que não dividira o quarto com seu irmão. Percebeu, então, que seu último aprendizado era o maior de todos; bruto, desmedido e, por isso mesmo, não vinha acompanhado de novos conselhos. A partir dali seria Beto, sozinho, tendo que se equilibrar no desvario do dia a dia, no desatino de simplesmente estar no mundo. Claro, doses homeopáticas de Winning Eleven nas datas comemorativas o acompanhariam até que conseguisse alçar voo sozinho. E depois também.

*Hoje Bruno completa 29 anos, e esse texto é uma homenagem de seu irmão, a um mês e meio dos 21. Um parabéns de seu rival implacável e eterno irmão caçula,


por Beto Passeri.







sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Segunda, às oito

(Divulgação/Beth Santos)

Por oito vezes o ponteiro havia se movido desde a meia-noite e mais de oito eram as gotas que encharcavam a camisa social nas bases do braço. Talvez esse fosse o único incômodo maior do que a infinidade de membros que ocupavam o mesmo espaço naquele coletivo fétido e lotado. Imagens da festa de ontem oscilavam por sua visão periférica, seja nas manchetes efusivas da imprensa pelega das mãos dos poucos sentados naquele compacto de gente, seja nos fugazes cartazes e placas que poluíram a vista da cidade nos últimos meses dissipados pela janela. Pobre cidade, que vive de vistoso cenário e trata pessoas como elementos de figuração.

Além do mártir de toda manhã, estava ali um dissonante. O único descontente, excetuando a velha que reclamava da parada perdida. O desdentado, pregado no vidro que mal conseguia expandir e contrair o diafragma castigado pelo peso da estiva. O aluno que, além de mal-alimentado, ainda chegará atrasado ao colégio primário. O motorista, ou cobrador, ou o seja-lá-qual-denominação que faz tudo dentro daquele ônibus do inferno. Acredite, o representante do digníssima raça ariana do Posto Nove que tirou o carro da garagem só para percorrer aquele engarrafado quarteirão também não parecia satisfeito.

Então diga, Deus, se tu mesmo existes, se há razão palpável para toda essa gente ratificar a realidade caótica que é pão nosso de todo dia. Se houver, mande carta, e-mail, talvez, porque ele nem domina nem possui a linguagem dos telefones móveis espertos que oferecem cada vez mais canais e minguam com as já escassas significâncias. Diga e repita, porque o rito remoído de remorso de toda manhã irá continuar. E esse barulho ensurdecedor. Só a ele incomoda?

Devem ser os arcos coloridos que o objeto urbano vai receber no futuro, ou mesmo a bola que vai rolar por um antigo palco popular. Faz sentido. Ou a limpeza que joga para o subúrbio triste, para rebaixada do estado e para o oeste da Avenida os detritos humanos insignificantes. Detritos que retornam, por transporte  eficiente de carroça, todos os dias, para o centro e para o mundo encantado da brisa sulista. Mas não ficam. Pendulam no fim da labuta, às seis, e desaparecem como em um toque de descarga.

O bar virou restaurante, a bola agora é alugada em grama sintética, e o funk é charme e aparece na novela das dez. Esvaziam o significado e tudo que lhe envolve é uma maquete leve, de isopor. Tão maleável que pode ser vendida para qualquer que deixar trocado na indústria hoteleira ou prometer gerar meia-dúzia de empregos para os despejados, removidos ou excluídos. Miséria é moeda de troca por essas terras, acredite.  Idéias são descartáveis, perene é, somente, a projeção de município do futuro que é tomada por pílulas, por todos que abrem a cartela pressionado o botão vermelho do controle remoto, quantas vezes o medicado quiser.

O aceno de mudança é silenciado em primeiro turno. Estão todos satisfeitos, embora mutilados. A utopia vira moda, ridicularizada pela classe medíocre que finge viver na Europa, mas gasta as solas nas vias esburacadas do porão do América Latina. Temos dinheiro sim, mas não está conosco. Segue nos bancos dos empreiteiros ou nas empreitadas dos banqueiros, longe do alerta sonoro da parada solicitada que acaba de ser soado. E ignorado, após flagrado o atraso do relógio do condutor da máquina com rodas que carrega uma multidão parda, insossa e cheia de olheiras.

É sua vez. Já deu o dinheiro para quem sempre se dá bem, é hora de garantir o frango pálido do prato de amanhã. Para sua segurança, este ônibus possui um dispositivo que só permite o veículo andar com as portas fechadas. Tropeça e cai. Aqui fora estão todos bem, também. Farto de semideuses, resta-lhe a convicção de que, nesse programa de auditório que é a vida cortesã, somente ele é o errado.

Por Helcio Herbert Neto                                                                              

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O sindicato


Charge: Rodrigo Chinellatto
    
Não lembro bem como aconteceu, mas na última sexta-feira eu fui chamado para jogar um futebol do sindicato dos servidores da UFF, em Niterói. Campo de 11, à beira da Baía, gramado impecável, árbitro, uniforme, 45 minutos cada tempo, e tudo de graça. Não é sempre que a sorte sorri desse jeito e eu, mesmo batendo ponto às 19h no trabalho, tinha que dar um jeito de estar me aquecendo às 16h.

Compensei as horas ao longo da semana – o que não fazemos? – saí cedo e, ainda assim, o tempo me traiu. Peguei a barca das 15h20, cheguei do outro lado da Guanabara vinte e poucos minutos depois, e corri o que eu não aguentaria correr mais tarde só para estar em campo antes do apito inicial. Almejava uma vaga entre os titulares.

Avistei o campo, fui apreciando o que me tinha sido prometido, mas notei que não havia ninguém além de dois velhos mais pra lá do que pra cá sentados na linha lateral. Cumprimentei-os, e fui assistindo a chegada paquidérmica do resto do quórum. A maioria coroa, na faixa dos 50, quando não velhos, todos bem castigados pelos anos de labuta. Humildes, lançavam-me um sorrisinho sem graça de boas vindas, mas não escondiam o desconforto com a minha presença.

Uma espécie de líder se destacou dos demais, distribuindo as camisas sem titubear e apressando ferozmente os que ainda calçavam as chuteiras. Sequer olhou para mim.
- O pessoal do sindicato tem que jogar – cochichou um rapaz mais novo que recebia um dos uniformes. –Eu venho há dois anos já; espera que você entra.

A bola rolou, quer dizer, tentou rolar. Um futebol terrível foi jogado durante 45 minutos que pareceram durar quatro horas, ali, vitimado pelo vento gelado do fim de tarde; com os pés formigando de vontade, mas brochados pela constatação sóbria de que eu não deveria ter feito o sacrifício.

A tortura do banco de reservas teve fim, mas a angústia não. Jorge, o líder sisudo, efetuou algumas trocas durante o intervalo - dessa vez até chegou a me espiar por cima do ombro -, mas passou longe de cogitar a minha entrada. “Pato Rouco”, uma das lendas da pelada, e que passara o primeiro tempo inteiro pregado na linha lateral, bêbado, conversando com os suplentes, pediu para sair. Talvez eu entrasse, não tivessem os outros protestado com tanta veemência pelo ‘fico’ do Pato.
- Entra aí, é mais fácil eu voltar no meio do segundo tempo do que você – e entregou-me a camisa um tal ‘Índio’, figura que, depois fiquei sabendo, contava os gols em peladas desde os 11 anos de idade. Segundo suas contas, eram mais de dois mil e trezentos.

Achei que seria fácil parecer gênio pelo que havia observado no primeiro tempo, mas fui pego totalmente de surpresa. Na primeira vez em que entrei num campo com aquelas dimensões, simplesmente não me encontrei no tempo e no espaço. Errei todos os passes, pois a bola prendia na grama, não soube marcar nem atacar, ouvi umas três vezes um “Porra, viadinho!”, e me cansei com 25 minutos de jogo. Meu time acabou vencendo graças a dois golaços de falta de um cara talentoso e eu, no fim das contas, acabei não sendo responsabilizado pelas próprias lambanças.

Depois de uma chuveirada revigorante, já estava até aliviado pelo saldo final do futebol. Na saída do vestiário, vi Jorge carregando dois sacos lotados de uniformes. Ele ainda ia pegar um ônibus para São Gonçalo, então me dispus a ajudá-lo diante de alguma resistência.
- Você lava os uniformes em casa? – perguntei.
- Lavo, lavo um por um, à mão. À mão porque se puser na máquina descolore e desfia tudo – completou.

Diante da minha surpresa, Jorge, agora nem tão carrancudo, se antecipou.
- Meu filho, a gente joga esse futebol desde 1987. Quando o país nem era democrático, a pelada já era. Mudou tudo de lá pra cá, morreram colegas do nosso grupo, a UFF não é a mesma, a gente já não consegue correr muito, mas o futebol do sindicato não pode acabar.
- De 87 para cá vocês nunca deixaram de jogar?
- Nunca. Completamos vinte e cinco anos agora em junho. Tirando feriado, nunca perdemos uma sexta-feira. Já perdi muita mulher por causa desse futebol também – e riu, num misto de timidez e orgulho.

Quanto mais eu me surpreendia e me interessava pelas histórias, mais ele se animava a contá-las. E assim foi até o terminal de ônibus, quando ele fez sinal para um dos carros e pegou as bolsas úmidas da minha mão.
- Não diria mesmo, mas você tem jeito para pegar no pesado, ein? – e deu uma longa gargalhada, exibindo a carência de alguns dentes.

Despedi-me dele, dei as costas e sentei no primeiro bar digno daquela tarde. Lá, tentei pensar em como pedir dez minutos de adiantamento na semana seguinte. É que na próxima sexta eu preciso pegar a barca das 15h para dar tempo de pendurar as redes.



Por Beto Passeri.