quarta-feira, 30 de março de 2011

Nostalgia precoce (2)


Depois de todo o imbróglio do último post e com um terreno mais macio, finalmente posso chegar ao ponto principal. Apesar de jovem ainda, posso sentir o futebol envelhecer dentro de mim, e já me apresento comicamente nostálgico. Percebi isso há alguns dias, quando ouvi falar muito bem do filho de Zinédine Zidane e, subitamente, fui consumido por uma saudade arrebatadora desse ex-jogador indefinível.

Recordo perfeitamente da primeira vez que vi Zidane em campo. Foi em 98, numa final de Copa do Mundo. Ele fez dois gols, acabou com o jogo e alguns parentes choraram na sala de estar a derrota brasileira para a França. A partir daí, tomei consciência sobre o futebol e nunca mais parei de acompanhar Zinédine.

Ele era único. O verdadeiro maestro dos gramados. Não era como tantos camisas 10 talentosos que levam o time. Levava seu time, o outro e também o estádio. Quando Zidane estava em campo a torcida cantava diferente, ele regia a orquestra no seu ritmo, no seu compasso. E para que pressa? Futebol era poesia nos pés de Zizou, e a arte se desprendia do tempo, ridicularizava-o.

Diferente de outros craques, Zinédine nunca se apaixonou pela bola, e sim o contrário. Como bom cavalheiro, tratava-a com respeito e carinho, mas nunca ficava muito tempo com ela. Sequer conhecia seu rosto; nunca pôde reparar, não olhava para baixo. Às vezes ela se cansava do amor platônico e ia, queimando em raiva, tirar satisfações. Ele, sereno, acalmava-lhe com um ou dois afagos e tratava de ser solidário com seus companheiros. Raramente sujava o uniforme, aliás, jogava de terno e gravata. Jamais aparentava cansaço, afobação ou desespero. Não se esforçava para jogar.

Seus domínios petrificavam a bola onde quer que ela estivesse, como o olhar da Medusa; seus chutes e cobranças de falta eram mais devastadores que os raios de Zeus; seus passes superaram a precisão de qualquer arma do Olimpo e, como Morfeu, era responsável pelos sonhos. O futebol de Zidane não era coisa deste mundo. Foi o único Deus que tive a oportunidade de conhecer e, se hoje não sou totalmente cético, devo agradecer a esse gênio francês: grâce, Zizou!

O filho de Zinédine se chama Enzo Francescoli Zidane, em homenagem ao craque uruguaio, ídolo de Zizou. O menino, que completou 16 anos no último dia 24, joga no Real Madri e já é tratado como príncipe. Ainda não se decidiu sobre jogar na seleção espanhola ou francesa, mas isso não importa. Só queremos ver algo próximo a Zinédine Zidane.

Seguem dois vídeos: o primeiro, de Zinédine; o segundo, de seu filho.
http://www.youtube.com/watch?v=S_TymVHADrM&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=NQyyqYReYpg&feature=related


Por Roberto Passeri.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Nostalgia precoce


O futebol, assim como a vida de uma maneira geral, é tomado de saudosismo e nostalgia. Lembranças mitificadas de um passado glorioso sim, mas nunca melhor que o presente. Difícil explicar esse fenômeno, se é que ele tem explicação. Quanto mais velho você fica, mais você gosta de louvar jogadores que os mais novos não viram; seja por crer que eles realmente jogaram mais ou só para se sentir minimamente superior.

Da mesma forma como para os pais e avôs é prazeroso dizer que em suas épocas brincavam nas ruas, seguros, e isso era infinitamente melhor do que o enclausuramento dos videogames e computadores de hoje, é fácil para os filhos e netos ignorar as histórias de Garrincha, Jairzinho, Gérson e outros tantos (não falo de Pelé porque ele se encontra acima do bem e do mal), alegando que o futebol atual é muito mais competitivo e aquele blá, blá, blá de sempre.

Cheguei à conclusão de que não sentimos falta do futebol em si de um jogador ou de outro; sentimos falta da imagem daquela pessoa, do símbolo que aquele personagem representava, da forma única como jogava e de sua camisa própria, sua marca, como a dos super-heróis.

Quando falamos dos tops da história desse esporte mágico, não podemos falar de ser mais ou menos jogador, ter mais ou menos futebol. Por mais imparcial que o observador se diga, qualquer opinião vai ser influenciada por paixão e nada mais.

Se for flamenguista, Zico terá sido melhor que Maradona; se for argentino (sobretudo boquense), o contrário. Se for zagueiro nas peladas de fim de semana, pode preferir Beckenbauer a Cruijff, o que um outro mais ousado achará um absurdo. Se for avô, Garrincha; se for neto, Ronaldinho Gaúcho, e por aí vai. Isto só comprova que, como a vida, o futebol não tem verdade absoluta.

Essas palavras sobre nostalgia eram para ser poucas, que me levariam a falar de um jogador especificamente, mas escrever sobre futebol me entretém tanto quanto um bom jogo, então não me policiei o suficiente e deixei a bagunça fluir um pouco por aqui. No próximo post chego aonde queria. Até breve!


Por Roberto Passeri

terça-feira, 22 de março de 2011

Anacrônicas Desportivas: Nada como... Uma Bela Retranca




Ao invés do monótono som do ar-condicionado, um bom papo. No lugar do marasmo de uma sala que mais parece um escritório, uma conversa que gerou boas gargalhadas. Contrariando a lógica das redações modernas, onde as respostas não estão nas pessoas, mas nas máquinas, uma relação humana se estabelece em um lugar que parecia ter esquecido o humanismo há muitos anos.

E nessa ocasião surpreendente surge o questionamento que me tirou, me tira e sempre irá me tirar do sério quando relembrar o assunto. Quando falando de relações amorosas, todos da mesa apontaram a primeira coisa que lhes chama atenção nas mulheres: um mais romântico foi enfático ao dizer que são os olhos que lhe magnetizam, outro mais despojado foi direto às pernas, e por ai foi... até chegar minha vez.

Foi como andar na prancha de um navio pirata. De um lado, a imensidão das características das mulheres que me prenderam a atenção, de outro os olhos afiados dos amigos curiosos. Impossível decifrar uma semelhança entre todas elas. Impossível escapar da pergunta que, para os companheiros, tinha resposta intuitiva e instantânea.

Desconversei, tentei mudar de assunto. E consegui. O papo seguiu, o tempo da escala passou rápido e fui pra casa. Mas ficou a dúvida, a pergunta ecoando na minha cabeça. A aflição foi ampliada quando percebi que todos os meus amores não tem essa matriz, essa raiz semelhante. Todas as minhas paixões são misteriosas, indecifráveis, incógnitas. E partiu daí a motivação para escrever esse texto.

Meus caros amigos, como me atraem os times faceiros, alegres e habilidosos. Ver um Barcelona, seja do Ronaldinho Gaúcho ou do Messi, ver um Santos, seja de Diego e Robinho ou Ganso e Neymar, é inenarrável. Um futebol sem preocupações defensivas, sem respondabilidade e, por fim, sem respeito. Além do Bem, do Mal e da Moral, o estilo conhecido como "genuíno brasileiro" é encantador.

Entretanto, sou incapaz de decifrar um ideal também de estilo futebolístico. E é aì que surge minha adimiração pela beleza marginal, esquecida pela maioria. Como é encantadora uma retranca, três zagueiros, técnico rabujento e bola para o mato. Uma retranca como a da Inter do Mourinho ou do Leonardo, do Tottenham ou da Seleção Italiana. O Futebol Força, Futebol Eficiência é sim muito interessante.

É nesse momento que eu descubro que sou um verdadeiro fã desse esporte. Ao sol, à sombra, botinudo ou presepeiro eu estou lá, assitindo e admirando. É só assistir a Champions League desse ano, que para mim, é a melhor dos últimos tempos. Tem de tudo para todos os gostos. É bom que eu me destraio e esqueço de ficar buscando a tal essência...


por Helcio Herbert Neto.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Futebol e pátria: nazifascismo



A “esquadra italiana” ganhou os mundiais de 34 e 38 em nome da pátria e de Mussolini, e seus jogadores começavam e terminavam cada partida dando vivas à Itália e saudando o público com a palma da mão estendida. Antes da final contra a Hungria, em 38, os jogadores italianos receberam, de Roma, um telegrama assinado pelo chefe do fascismo: “Vencer ou morrer”. Ganharam por 4 a 2, e seguiram vivos.

Um monumento lembra, na Ucrânia, os jogadores do Dinamo de Kiev de 1942. Em plena ocupação alemã, eles cometeram a loucura de derrotar uma seleção de Hitler. Tinham sido avisados: “Se ganharem, morrem”. Não puderam aguentar a vontade de ser dignos e golearam em nome da União Soviética. Os onze, ainda uniformizados, foram fuzilados quando terminou a partida.

O time modelo da Espanha de Franco, o Real Madri, reinou no mundo entre 1956 e 1960. Ganhou quatro campeonatos da Liga espanhola, cinco Copas da Europa e uma intercontinental. A ditadura de Franco tinha encontrado uma insuperável embaixada ambulante. Em 1959, um dos chefes do regime, José Solís, pronunciou um discurso de gratidão diante dos jogadores, “porque gente que antes nos odiava, agora nos compreende graças a vocês”.


De Eduardo Galeano, por Roberto Passeri

quinta-feira, 17 de março de 2011

Imperador : Craque dentro, pereba fora de campo.

Adriano Leite Ribeiro, mais conhecido como imperador. Atacante conhecido por suas saídas sempre confusas, mas também por um poder decisivo dentro de campo que faz a diferença. Em 2009 levou o Flamengo ao Hexacampeonato brasileiro, mas foi muito contestado por suas atitudes fora de campo.

Até onde um jogador pode ficar taxado por suas atitudes extra campo ?

Todos sabemos que o futebol hoje se tornou um grande mercado e que jogadores são celebridades e tem seus passos acompanhados por um flash, mas não deveriamos dar mais valor ao que o jogador faz dentro de campo ao que faz fora dele ? Parece que não é assim.

O Flamengo, o mesmo que o imperador, juntamente com o renegado Petkovic, colocou nas costas em 2009 e conquistou o título brasileiro, parece não querer mais o imperador treinando na Gávea ( ou no ninho do urubu, que seja).

Será que Luxemburgo e todo o departamento de futebol dá mais valor a vida pessoal dos atletas ao que eles fazem dentro de campo ?

Se for assim , acho que o futebol não é o melhor campo para eles atuarem, e que está na hora deles arrumarem um emprego em alguma revista de fofoca.

Por Felipe Exaltação.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Série Marginalizados: Il Codino Divino


Segundo os budistas, “cada vez que uma pessoa age, há alguma qualidade de intenção em sua mente e essa intenção muitas vezes não é demonstrada pelo seu exterior, mas está em seu interior e este determinará os efeitos dela decorrentes”. No Terevada – uma das principais correntes do budismo - , a existência de salvação divina ou perdão de um carma não é aceita, já que se trata de um processo puramente impessoal que faz parte do univerno.

Esses conceitos são suficientes para entender a carreira de um dos jogadores mais marginalizados da história do futebol: Roberto Baggio. Para ele, nunca houve salvação nem perdão de seu carma. Inspirado em ninguém mais ninguém menos que Zico, o talentoso jovem do pequeno Vicenza não demorou a despertar interesse de clubes maiores e selar seu futuro. Mas há poucos dias do anúncio na Fiorentina, uma lesão gravíssima no joelho quase tirou Baggio do futebol profissional, em 85.

Durante sua recuperação, a mais nova joia do futebol italiano, de família tipicamente católica, foi encontrar a serenidade no Budismo, o que lhe causou alguns conflitos familiares e, por outro lado, deu-lhe o equilíbrio que precisava para vencer o primeiro de muitos obstáculos em sua carreira.

Um ano e meio depois, Baggio voltou aos gramados obstinado a retribuir a confiança da Fiorentina em seu futebol. E assim o fez: Com gols de todos os jeitos e jogadas geniais, “Il Codino Divino” (O Rabo-de-Cavalo Divino), já idolatrado, levou o time de Florença à final da UEFA, mas não conseguiu superar a tradicional Juventus, que assediava cada vez mais o atacante.

Após o fracasso e protestos da torcida, a família Pondella, dona da Fiorentina, vendeu parte do time. Baggio, mesmo a contragosto, teve Turim como destino, para desespero dos torcedores da “Viola”. No primeiro confronto contra o ex-clube, Baggio se recusou a cobrar um pênalti e, no fim do jogo, em lágrimas, beijou um cachecol roxo atirado por um torcedor, sendo, então, ovacionado pela torcida da Fiorentina e quase linchado pela plateia bianconera da Juventus.

Com seu futebol singular, passeando com uma facilidade incrível entre o instinto matador de um 9 e a maestria de um camisa 10 de classe, Baggio conseguiu se redimir com os torcedores da Juve e, justamente lá, atingiu seu auge. Dono de uma personalidade forte, assumiu a braçadeira de capitão da “Velha Senhora”, ganhou quase todos os títulos possíveis e foi eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA em 93.

Tido por muitos como o maior jogador italiano de todos os tempos, Baggio ainda vivia à sombra de Giuseppe Meazza e Paolo Rossi por não ter conquistado a Copa do Mundo. E lá foi Il Codino para os Estados Unidos, em 94, conquistar o que ainda faltava. Liderada por ele, a Squadra Azzurra chegou até a decisão por pênaltis da final – a primeira da história das Copas – contra o Brasil de Romário e companhia.

Franco Baresi, um dos maiores zagueiros que o mundo viu jogar, desperdiçou uma das cobranças, mas dessa ninguém se recorda. Ele não era o ator principal, ele não era o craque, não era o último a cobrar, enfim, não tinha que ser ele. Alguma força desconhecida pedia que fosse Baggio, e foi. Olhando carinhosamente para a bola, como fizera tantas outras vezes na carreira, partiu em sua direção. Ela sempre o procurou, descansou em seus pés, riu de suas jogadas, tornou-o ídolo. Mas o carma de Baggio ordenou sua amante que o traísse naquele exato momento. E ela o fez: voou por cima do poste e deu o tetracampeonato para o Brasil.

Ficou ali, parado, na marca do pênalti, contemplando o vazio - espacial e existencial. Alguns dizem que ficou ali por cinco, dez, vinte minutos. Arrisco-me a dizer que Baggio ainda está lá. Dezessete anos se passaram e um dos jogadores mais completos de todos os tempos não conseguiu perdão algum. Nem do povo, nem divino, nem de si mesmo. Il Codino bem que tentou, mas nunca atingiu o nirvana¹, e ficou por isso mesmo.



¹ - O nirvana é a mais alta felicidade, um estado completamente além do sofrimento. Todos aqueles que atingiram algum grau de iluminação desfrutam da paz do nirvana. Aqueles que atingem o nirvana não estão mais sujeitos ao renascimento no samsara — a existência cíclica — porque estão além do ciclo da morte e renascimento. (www.dharmanet.com.br)



Por Roberto Passeri

quarta-feira, 9 de março de 2011

Anacrônicas Desportivas: Oásis Romântico

Jogo do Barcelona contra o Arsenal, nesta terça-feira, pela Champions League.

O Barcelona desperta o fascínio de todos os fãs do futebol. Que novidade! Razão para o sorriso dos amantes do futebol, o time catalão está estampado no sorriso de canto de boca nas manhãs das escolas, redações e campos de várzea. Contudo, meus caros, vocês já se perguntaram o porquê?

Sim, também é devido ao seu modo de jogar. A maneira ofensiva como o time se comporta em campo realmente desespera os adversários. A entrada de Busquets e Abidal no jogo de ontem são uma prova de que time que monopoliza a posse de bola pode dar um refresco aos seus zagueiros. Tudo isso é verdade. Entretanto, vários times jogaram bem, vários times ganharam de seus adversários com maestria. Um bom exemplo é o Real Madrid no começo da temporada. Era show atrás de show.

Não obstante, após o baile que o Real levou no Camp Nou na Liga Espanhola, tudo isso foi por terra. E assim aconteceu com tantos outros. A diferença entre e o Barça e os bons times é o alicerce de sua maneira de jogar. São as "cantoneras" de onde saem os craques, é o número de jogadores locais no time titular, é o espírito catalão que emana de quem veste a camisa azul e grená.

Nesses tempos do instantâneo, do "clic", quando a identidade é volátil e efêmera, é muito bom ver um Barcelona tão Barcelona. Foi como ver um Santos verdadeiramente praieiro ano passado. Conseguir ser original, genuíno é o resgate de uma essência que buscamos constantemente nessas épocas de globalizações e mídias de alta tecnologia.

E o melhor: não se trata de um nacionalismo tolo, nem mesmo se trata de xenofobia. O caso Messi mostra que o logradouro onde é emitido a certidão de nascimento não é definitivo para o sentimento de pertencimento. Basta ver que Messi só é Messi quando representa as duas cores da Catalunha.

Dessa maneira, quando ligamos a televisão para assistir o Barcelona nos esbaldamos com o futebol que aqueles jogadores apresentam e com a identidade que representam. Por isso, afirmo que o Barcelona é o melhor time do Planeta. E se os fatos não legitimarem o que digo, azar dos fatos.

por Helcio Herbert Neto