sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Mundo não progride com o Tempo




'Caminhamos à passos largos rumo ao progresso. A História, por meio de seus heróis e fatos, caminha na direção da liberdade. O áureo horizonte que marca o fim do marchar errante do Homem é palpável; basta analisar o passado para ver como vivemos um processo pulsante que terá como destino a salvação, o melhoramento, e a proximidade da primazia. Os  instrumentos que desenvolvemos durante tal jornada chegam a sua perfeição atualmente e viabilizam mais ainda nossa fé: estamos mais desenvolvidos e cada vez mais prontos para alcançar a tão desejada meta.' Você já ouviu isso?

Usado por Cristãos, Judeus, Nazi-Fascistas e governantes opressores, o efeito discursivo dessa 'História Progressiva' é realmente poderoso. Olhar para trás e procurar um encadeamento de marcos é confortante, enche de sentido vidas que nem sempre o possuem. Várias sociedades se curvaram a essa maneira de ver o mundo e, via de regra, o resultado não foi o alcance desse Eldorado de liberdade e progresso. Sob a promessa de um futuro, violou-se a integridade do presente e das vidas que trafegavam pela Terra nesses tempos. O Século XX é bem ilustrativo na tarefa de decretar a falência desse ponto de vista: Estados opressosores ascenavam com o advento de um paraíso em tempos que nunca chegaram enquanto nos seus porões multidões eram dizimadas.

Mas parece que ainda não aprendemos. Sempre que algo de encantador, de surpreendente e inovador ocorre, lá vamos nós buscar o 'estopim' para a 'revolução' permanente. Buscamos na excessão uma futura tendência, uma onda que vai sobrepor hábitos atuais e tornar possível nossa redenção e a superação das dificuldades vivenciadas no dia-a-dia. Não sou louco para dizer que não há mudanças, nem para desiludir os idealistas que creêm no avanço do espírito. O que afirmo aqui é que, a partir dessa perspectiva, muitas falácias são criadas, muita gente digere essa forma de pensar sem passar pelas adagas da crítica, muita gente tira proveito desse argumento nos palanques.

Na terça-feira, a História Progressista tomou mais uma punhalada. Dessa vez, Drogba, Ramires e Fernando Torres foram os responsáveis por perfurar o peito desse discurso tão usual. A forma encantadora do Barcelona entorpecer os adversários até o instante derradeiro do gol chegou a fazer com que cegos sentenciassem que aquela era a nova forma de praticar futebol. No Brasil, técnicos encontravam, em um simples treino de 'um toque', a transformação permanente do esporte mais popular do planeta. Até mesmo no Flamengo (sim, o time que está de férias por quase um mês devido ao seu próprio demérito!) foi comparado por seu técnico a época, Vanderlei Luxemburgo, com o time catalão.

O que se viu no confronto que decidiu  a primeira vaga na final da Champions League foi uma grande partida, na qual o detentor da vantagem soube tirar proveito do placar alcançado em Londres. Os Azuis da Inglaterra, que na ocasião jogaram de branco, estenderam uma barreira intransponível na entrada da área: no começo, eram duas  as linhas de cinco homens bloqueavam o avanço barcelonista. Posteriormente, uma linha de quatro e outra de cinco jogadores protegiam o território sagrado de Cech, após a expulsão tola de John Terry. A insistência do Barcelona era vã, aquele remédio fora receitado por José Mourinho em 2010 e dera certo. Essa constatação gerava um mal-estar sonoro no Camp Nou. Mal-estar que alcançou seu apogeu no estalo resultante dao choque da bola contra o travessão na cobrança de penalti Messi. O jogo acabou ali, apesar de ainda ser primeiro tempo.

Engana-se quem acha que este que escreve levantará o cartaz da vitória do Futebol Força. Não haverá, nos próximos anos, uma migração dos lutadores de MMA para o futebol por causa da classificação do Chelsea na semi-final da Champions. O que aqui se afirma é que, exatamente, não haverá destacável vitória: a vida segue e os mesmo que decretaram que a predominância da 'Escola Barcelona' nos últimos anos vão bradar os versos mais belos ao ressurgimento do estilo inglês de jogar bola Pré-Premier League. Do mesmo jeito que o mundo do futebol não se tranformou integralmente depois da ascensão do Gigante da Catalunha, não será agora que isso vai acontecer.

Não engulamos versões simplificadas de elementos complexos como o Tempo e a História. Seria tão maravilhoso ver o Flamengo, o Atlético Mineiro, o Palmeiras... todos seguindo a tendência catalã-holandesa, que cenário. Entretanto não acontecerá. Embora fantástico, encantado e mágico, nem mesmo o Planeta Bola trilha uma estrada que tem como destino o final feliz. Igualmente incoerente é encarar a eliminação do time de Pep Guardiola como o sepultamento do 'Jogar Bonito'. Amigos e amigas, foi apenas um jogo.

P.S.: Sofri mais assistindo a rodada da Liga dos Campeões do que acompanhando meu time no fim de semana (ah, a Globalização...).



Por Helcio Herbert Neto.

sábado, 14 de abril de 2012

Entre Pelés e hiatos, um século



Neste sábado, o Santos completa 100 anos de história e, como todo grande clube, dá o que falar. Rende matérias especiais, entrevistas exclusivas, capas de revistas e jornais. Porém, não é tão simples falar da agremiação somente enaltecendo seus ídolos e suas conquistas, pois há também que se entender um pouco de sua história um tanto quanto intrigante.

Que é impossível fazer qualquer discurso sem colocar um a.P/d.P (antes e depois de Pelé), é óbvio, mas isso não é necessariamente uma exclusividade do Santos, mas de todo clube que teve uma fase áurea no passado e um grande ícone que a representasse (Botafogo do Garrincha, Inter do Falcão, Flamengo do Zico e por aí vai).

O que intriga é a cronologia insana do Santos Futebol Clube. É compreensível o começo difícil, a falta de títulos, mas depois que surge Pelé, o Rei, o Messias, e dá essa inédita dimensão global ao Alvinegro Praiano com a conquista de incontáveis títulos, nada mais faz sentido. O que era para se tornar ainda maior – ou talvez não – se apequena, sofre um hiato imenso e penoso em sua história, que só vai encontrar uma redenção verdadeira quase 40 anos depois. A geração de craques formados em casa, os “Novos Meninos da Vila”, devolvem ao Santos sua merecida reputação de gigante até chegar aos dias atuais, quando o tempo mais uma vez parece frear diante de uma nova era. A ascensão meteórica de Neymar catapulta o clube a uma dimensão que só Pelé – e talvez nem ele – tenha conseguido igual.

O início sem brilho e a Era Pelé

Impulsionada pelo grande escoamento de café em seu porto, a cidade de Santos crescia em uma velocidade assustadora no início do século XX. Com a paixão que Charles Miller havia emplacado no Brasil poucos anos antes, não demorou a se criar um clube de futebol na região. O uniforme, que no princípio era azul, branco e dourado, foi adaptado para o tradicional branco e preto por conta do custo de confecção. E com ele, o Santos Futebol Clube, fundado em 1912, sofreu no início. Por ser de fora da capital, o alvinegro era constantemente prejudicado pela arbitragem, e o único motivo de comemoração nos primeiros anos foi um Campeonato Paulista em 1935.

Mas tempos melhores – e como nem o mais otimista poderia prever – estavam por vir. Na década de 50, mais especificamente 1956, Waldemar de Brito, então técnico do Bauru, levou o garoto Dico, de apenas 15 anos, à Vila Belmiro. E a partir daquele instante, o Santos nunca mais foi o mesmo, assim como o garoto Dico, que virou Pelé. Na verdade, o próprio futebol nunca mais foi o mesmo. Com a genialidade do camisa 10 como eixo e a rotatividade de grandes jogadores como Coutinho, Pepe, Zito, Mengálvio, Clodoaldo, Carlos Alberto Torres, Edu, dentre outros, o clube alcançou suas maiores conquistas. Foram cinco Taças Brasil (atual Brasileiro), duas Libertadores, dois Mundiais, diversos Torneios Rio-São Paulo e Campeonatos Paulistas. Durante quase duas décadas, o Santos assombrou a todos, e Pelé foi assunto global mesmo sem a facilidade de informação que temos nos dias atuais. Maior goleador da história do futebol, com 1.281 gols em partidas oficiais, o "Rei" foi eleito, anos depois, o "Atleta do Século XX" por diversos Comitês Olímpicos. Poucas equipes na história conseguiram replicar o sucesso do Santos de Pelé, nenhuma por tanto tempo.

Pós-Pelé e o ostracismo

Com o fim da carreira do camisa 10, o Santos minguou. Numa espécie de movimento cardíaco de diástole (expansão) e sístole (contração), o clube caiu em um longo período de jejum após tantas conquistas. O Campeonato Paulista de 78, conquistado pelos "Meninos da Vila" e os vices-Brasileiros de 83, comandado por Serginho Chulapa, e de 95, pelo maestro Giovanni, são as melhores recordações alvinegras em quase 30 anos. Mas a conquista do Rio-São Paulo em 97 e da Conmbebol em 98 anunciam dias melhores para o Peixe no século/milênio que estava por vir.

Os "Novos Meninos da Vila" aos dias de hoje

Em 1999, Marcelo Pirilo Teixeira assume a presidência de um clube em frangalhos, mas investe na construção de um CT de primeiro mundo. Em 2002, os frutos finalmente são colhidos por Emerson Leão e, daquela base, nasce um time quase completo de garotos talentosos. Liderados por Robinho e Diego, os "novos Meninos da Vila" viraram febre e se sagraram campeões brasileiros. Com a base mantida no ano seguinte, o time que também tinha Renato, Elano, Alex e Léo, dentre outros, foi vice-campeão da Libertadores e do Brasileiro. Após mais uma conquista nacional em 2004, o time se desfaz, perde Robinho – maior ídolo do clube depois de Pelé – para o Real Madrid e volta a ser irregular.

Mas dessa vez, com uma estrutura montada e com a administração de Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, o LAOR, que manteve o investimento na base, a nova safra de craques demora pouco a sair. Em 2010, sob o comando de Dorival Júnior, o Santos de Neymar e Ganso, que teve também a volta de Robinho por empréstimo, vence o Paulista e a Copa do Brasil emplacando goleadas de sete, oito gols por jogo. Após o desentendimento com Dorival e consequente saída do treinador, o moleque Neymar amadurece e vira gênio, comandando o Santos no título da Libertadores em 2011.

Além de títulos relevantes, gols de placa e muitos dribles memoráveis, o marketing implacável do "menino moicano" colocou o Santos num patamar acima dos outros clubes brasileiros e sul-americanos. Carregando a imagem que representa a juventude de seu tempo, Neymar emplaca penteados esquisitos em filhos de torcedores rivais; com suas dancinhas despojadas, promove a camisa do Peixe para os cinco continentes; e, com as constantes recusas ao futebol europeu, alimenta expectativas de dias ainda mais gloriosos para o Santos Futebol Clube no ano em que comemora um século de existência, entre Pelé, Robinho, Neymar, jejuns e tanta história para contar.




Por Beto Passeri.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Isso não é Ousadia


Ao som de: Quero que vá tudo pro inferno - Roberto Carlos

Penteado extravagante, atitude despojada, o velho jeans surrado. Toda geração tem um rebelde, um ícone adolescente que atrai multidões histéricas por onde passa. Tudo bem, faz até parte do processo de formação da personalidade a idolatria por essas figuras que nossos pais odeiam eu mesmo tive alguns e duvido que você não tenha tido. O importante é observar que cada um desses James Deans traz tatuado em seu peito um pouco da identidade da juventude que representa, do espírito daquela gente fanática que sustenta o ídolo. Um belo exemplo é Roberto Carlos, símbolo dos garotos e garotas que, apesar de mandar 'pro Inferno' tudo que não fossem seus amores, carros e noites, acabavam por avolumar o coro da Marcha pela Família com Cristo contra as Reformas de Base de Jango, nos Anos Sessenta.

A figura da vez é Neymar. Tá na cara, tá na capa da revista. Após a cena ridícula que os membros do legislativo protagonizaram no Congresso nesta semana ninguém ousa discordar desse fato. Como todos os outros, o Camisa 11 do Santos traz traços de sua geração. No entanto, essa postagem não pretende julgar os gestos e a personalidade do grande nome do futebol brasileiro atual e nem mesmo a massa que tem em Neymar um ícone. A terefa se faz complexa demais para um simples mortal, desprovido de títulos de doutorado ou pós-doutorado em algum braço das Ciências Sociais. Aqui, a terefa será simplesmente analisar o slogan que acompanha o homem.

'Ousadia e Alegria'. Inicialmente, eram as chuteiras do jogador que traziam tais palavras. Contudo, com a expansão do fenômeno Neymar, a frase se tornou parte integrante da mitologia que envolve o atleta. Estampado em muitas das publicações sobre o jogador, o par de características já é absorvido pelos recpetores sem passar por nenhum julgamento crítico. Recentemente, 'Ousadia e Alegria' virou nome de pagode. Iniciando uma carreira solo depois da cisão do grupo Exaltasamba, um dos ex-vocalistas da banda aposta na fama do maior nome jovem do país para emplacar um sucesso na indústria fonográfica.

No entanto, vale a pena refletir. Que o atacante é alegre, poucos duvidam. Basta ver a maneira como ele se comporta dentro e fora de campo, o clima despojado que toma conta de suas entrevistas e o ar descontraído que os jogos alcançam após uma sequência de dribles geniais de sua autoria que qualquer suspeita de introspecção e tristeza vão por terra. Porém, e a 'Ousadia'? Cordões de ouro, belíssimas mulheres e noites glamurosas não configuram audacidade. Não depois de Helenos,  Garrinchas e Romários. Talvez o penteado? Realmente, trata-se de uma afronta moral a inspiração estética (ou anti-estética) que o jogador gera nas crianças. Mas não, não é suficiente para que tal palavra apareça quando se trata de Neymar tantas vezes.

A postura do mais significativo atleta da Selação Brasileira de futebol diante das atrocidades da Copa do Mundo de 2014 é inerte. Com a mesma agilidade do drible em Ronaldo Angelim no inesquecível mais belo gol de 2011, o craque foge de respostas mais contundentes sobre as questões que inundam o noticiário sobre a organização do Mundial. Supervalorização, corrupção, atraso nas obras, legado social. Tudo isso não aparece em suas respostas. Muitos dirão que realmente não deveria constar em suas palavras esse universo semântico político-social. E é verdade, Neymar é apenas um representante da classe, distante da conjuntura que o circunda muito pela realidade brasileira, muito pelo caráter alienante do processo pelo qual passam os atletas nas categorias de base.

Neymar não promove reflexão, não defende idéias, aliás parece não tê-las. Cai no lugar comum do marketing esportivo, imagem vazia sem alma, cabide que vende produto, e só. Aventureiros do futebol sim eram os desafiantes do status quo, da realidade vigente. Ousado Reinaldo comemorando o gol  como manifestação ideológica e gerando arrepios nos reacionários, ousado Sócrates levantando os punhos cerrados pela abertura política do país, ousado Loco Abreu reinvindicando melhores condições de trabalho para a classe na qual se insere. O que o jovem jogador realmente faz é 'mandar pro Inferno' todo o mais; atitude pueril de adolescente de castigo.



Por Helcio Herbert Neto.

terça-feira, 10 de abril de 2012

A única pirâmide

Se
O jornalismo
Ó santo ofício, ordena
Quês, Comos, Ondes e Porquês
Da forma mais preguiçosa só para vender
Eu vos digo: chatice! Eu, à profissão aspirante,
escritor vacilante, sempre achei deveras imbecilizante
Essa história de lead e de pirâmide invertida de informações
E também nunca fui fã das rimas, o que a esta altura já lhes parece claro
Mas o que há de se fazer quando só os versos e a construção moderna lhe salvam
Dos grilhões das reportagens, do chicote do editor ou da masmorra que é uma redação?
Roteiros não revelam o final no primeiro ato, piadas não arrancam risadas sem desamarrar
Filosofias não se constroem em um único parágrafo, e vidas não se contam em linhas engessadas
Se chegaram até aqui, creio que já mereçam. A inexpugnável notícia. Tão endeusada pelos medíocres.
Depois do jogo da Libertadores, Neymar esticou a noite em Porto Alegre e acabou preso no elevador.




Por Beto Passeri.













quinta-feira, 5 de abril de 2012

Memória de Minha Puta Triste



Esta crônica não é tão célebre quanto o romance de García Márquez, mas também fala do amor entre um homem e uma meretriz. A diferença, aqui, é que o personagem centenário é a cortesã, enquanto o papel jovial e quase inocente cabe a quem se identificar.

Culpar o quê? As falhas de André Bahia e Fabiano Eller em 2004? Abel? Incriminar Héctor Baldassi em 2007? Em 2008, o problema foi o salto alto, a festa de despedida para Joel. E em 2010, o talento de Montillo foi o culpado? E ontem, pergunto novamente, o que houve? Outra vez Joel ou a displicência de todo um elenco? Não existe explicação.

Todos estavam lá como vilões, mas poderiam ser herois. Estavam lá para desenhar a história, para serem pegos no flagrante na cama da prostitua e colocar à prova um amor ridículo, que é 90% sofrimento e 10% prazer. A história foi escrita dessa forma para você questionar se vale a pena.

Não, é óbvio que não vale. Você escolheu errado. Havia mil virgens de família e tu optaste pela vadia. Não há volta, só há o consolo de ser mais um em 35 milhões. O que te faz pensar se é você que faz a diferença, se é você que ela gosta mais. Também não. Nada em troca; pelo contrário, você paga e sofre. É torturado um ano por um dia de orgasmo.

Não espere um afago, uma virada no texto que vos parabenize por conseguir, acima de tudo e todos, manter o amor intacto. A relação apaixonante, blá, blá. Grande merda. Somos iguais, então, ao corno que senta no bar e se orgulha de contar para os amigos que perdoou a sem vergonha que tem em casa.

‘‘Quantas vidas nós vivemos? Quantas vezes nós morremos? Dizem que todos nós perdemos 21 gramas no exato momento de nossa morte. Todos. E quanto devem ser 21 gramas? Quanto se perde?’’.

E morremos em cada decepção. Deixamos o peso de nossa alma – 21 gramas – ir embora a cada silêncio quando a noite era de festa. A cada lágrima quando o dia pedia sorrisos. A cada cabeça inchada quando esperávamos fogos. Mas a memória é curta, e renascemos num simples clássico sem valor. Perdoamos a traição da biscate por causa de um singelo café da manhã na cama. E aí ela deita e, desse sexo desenfreado, surgem mais alguns milhares de imbecis que manterão, para sempre, a maior Nação de apaixonados do planeta.

Eu queria poder não ser Flamengo, mas nasci assim, e, como todo bom idiota, me orgulho disso.





Por Beto Passeri.

terça-feira, 3 de abril de 2012

E o salário ó !


Recentemente o mundo do humor perdeu um dos seus maiores nomes. Chico Anysio partiu, e a rodada dos estaduais do fim de semana que sucedeu a morte do humorista foi repleta de homenagens ao "mestre". Muitas comemorações de gols, nomes de personagens em camisas, todas muito bonitas, em especial a do Vasco, time de coração de Chico. O Time de São Januário entrou com uniforme onde o nome dos jogadores foi trocados pelo de personagens do humorista. Eis que aparece o humor, ou apenas uma coincidencia engraçada, na homenagem. Renato Silva, zagueiro, conhecido no mundo da bola por ter se envolvido com com maconha, foi a campo com a camisa 33, com o personagem "Fumaça" escrito em suas costas. Ironia, humor ou apenas coincidência, uma bela homenagem pro mestre do humor com uma pitada do ingrediente que Chico melhor usava em suas aparições, a piada.

Feita aqui esta pequena homenagem, pulemos para o assunto que a foto nos remete. Um dos personagens mais, se não o mais famoso, de Chico Anysio era o Professor Raimundo. Em sua classe bagunceira, o professor tinha a árdua missão de educar os alunos da escola fictícia da telinha, e no final de cada episódio, a câmera focava no professor e ele lançava seu conhecidíssimo bordão: " E o salário ó ", fazendo o mesmo gesto que os jogadores do Fluminense na foto. Agora, logo jogadores de futebol utilizando deste bordão? Que ironia. Sem querer entrar na discussão do patamar econômico que o futebol chegou, da quantidade de dinheiro que gira ao redor da bola, e sem querer ser hipócrita, pois os que vos fala (escreve) discorre sobre futebol. Mas é impressionante a quantidade de zeros nos contra-cheques dos jogadores.

Sim, o futebol envolve muito dinheiro. Propaganda, bilheteria, e diversas outras atividades fazem do futebol uma atividade extremamente lucrativa, mas enquanto jogadores ganham na casa de centenas de milhares; médicos, professores, policiais, que são profissões que deveriam ser as mais importantes de uma sociedade não chegam a ganhar 10% do que jogadores considerados medianos ganham. Acontece uma troca de valores, e o resultado está na qualidade da educação, na segurança, na saúde pública do nosso país. A todo momento greves acontecem. Policiais reivindicam um salário digno, enquanto para um jogador ganhar R$80.000 mensais está fora de cogitação.

Se tivéssemos a mesma paixão, a mesma ligação que temos com o futebol em questões de interesse público, as coisas poderiam ser um pouco diferentes. Políticos fazem a farra, verbas são desviadas, e tantas outras falcatruas que são noticiadas diariamente. Mas enquanto isso não acontece teremos cada vez mais "Professores Raimundos" insatisfeitos com seus respectivos salários.






Por Felipe Exaltação