domingo, 17 de outubro de 2010

Herói e Renúncia


Estreou nesse mês o filme Tropa de Elite 2. Aguardada pelo público, essa segunda parte da obra do Diretor José Padilha traz verdadeiras quebras de expectativa. Dentre elas, a mais impressionante é a nova fase do personagem principal, o agora Coronel Nascimento.

O personagem interpretado por Wagner moura traz ao Cinema Brasileiro a figura do Herói de Renúncia, aquele que tudo cede para alcançar um objetivo que, por muitas vezes, se faz inatingível. Um Herói que tem sua índole questionada, sua história ignorada e sua vida revirada pelo simples fato de, por fazer aquilo que acredita ser justo, bater de frente com interesses pessoais instalados.

A coincidência fez com que a data do fato que abalou internamente o Clube de Regatas Flamengo estivesse próxima do lançamento do longa-metragem. Com essa proximidade, o calor dos fatos e a intensidade dos momentos vividos diante da tela, fez-se uma relação do momento do ídolo com o filme. Zico também é um Herói de Renúncia.

Assim como Nascimento, o Galinho de Quintino ficou ilhado meio a personagens de idoneidade questionável, teve sua própria honestidade posta a prova, e viu seus filhos em meio ao fogo cruzado. Tudo isso por ir de encontro a um Sistema vigente, com vaidades e corrupções latentes. Tudo isso por assumir uma postura coerente ao que considera bom para o Clube.

No filme, que será, com certeza, sucesso de bilheteria, o problema do Sub-Secretário é insolúvel, tendo em vista a abrangência da realidade contra a qual ele luta. E quanto à adversidade enfrentada por Zico? Por mais complicada que pareça, não pode ser sequer comparada ao problema da corrupção nacional. Contudo, em menos de um semestre o Eterno Camisa Dez da Gávea pediu afastamento do posto de Diretor Executivo de Futebol.

Em entrevistas recentes, Arthur Antunes Coimbra, demonstrou interesse em retornar ao cenário político do Mais Querido do Brasil. Segundo ele, em 2012 sua candidatura à presidência seria uma opção para o retorno ao seu Time de coração. Uma eventual vitória nas urnas poderia colocá-lo acima de todas essas intrigas formadas para derrubá-lo.

Entretanto, o que acontecerá até lá? Qual será o horizonte do Flamengo, tendo em vista o recente descortinar do momento político sujo instalado na Gávea? Resta apenas aos torcedores aguardar o retorno do seu Herói, e torcer que desta vez ele consiga permanecer no cargo e realizar as mudanças tão esperadas pela Nação.


Por Helcio Herbert Neto

sábado, 9 de outubro de 2010

Série Marginalizados: Monarca Carioca



Ao som de: Camisa 10 da Gávea - Jorge Ben Jor

O Rio perdia a graça. Com a transferência da Capital para o Centro-oeste e a Ditadura Militar, os cariocas já não viviam aquele clima romântico e leve dos tempos da Bossa Nova. Não obstante, na Zona Norte, distante do litoral e do centro empresarial, surgia uma garoto capaz de devolver ao Rio de Janeiro sua merecida posição.

O Flamengo já era um clube de massa, capaz de esvaziar as belas praias da Zona Sul quando era Domingo de Maracanã. Todavia, o Vermelho e Preto não possuía títulos de abrangência nacional.

Nesses tempos de escassez, era a torcida que gerava orgulho e idolatria. E foi devido a ela que um grande número de habilidosos jovens, assim como um franzino menino de Quintino, começou a sonhar em vestir o Manto Sagrado.

Aqueles que conheciam internamente o Flamengo se espantavam com a habilidade daqueles rapazes. Os times da base eram ricos em material humano, bem servidos em todas as posições. Entretanto, entre todos aqueles atletas em potencial, um meia de ligação parecia ter uma difereciada aura de vitória.

No princípio da década de setenta esse jovem, chamado de Arthurzico pela família, estreava no Rubro-Negro da Gávea. Ao receber a camisa de Carlinhos, o maior ídolo do time durante década anterior, houve um ritual semelhante a passagem das Coroas nas Famílias Reais: o próximo na dinastia tinha a obrigação de conduzir seu povo a vitórias.

E foi o que aconteceu. Com o passar dos anos, aquele time tornou-se mágico e o seu Camisa Dez, conhecido agora como Zico, havia tomado a proporção de um Soberano. De ponto-futuro em ponto-futuro, o Flamengo estonteava adversários e magnetizava sua torcida.

Aquele time conquistou o Brasil. Passou por todas as regiões dessa nação continental, dos Pampas Gaúchos aos infinitos florestais do Norte, deixando terras arrasadas e batalhões de fãs. Após dominar também todo o Continete Americano, era hora de conquistar o Planeta.

Marcaram o jogo para o outro lado do Planeta e chamaram o campeão do Velho Continente. Velho e prepotente. O Liverpool achava que já havia ganhado, mas bastou pouco mais de meia hora para que o esquadrão de Zico deixasse a Terra com as duas cores do Time da Gávea.

O Rio de Janeiro voltava a ser o centro do Mundo. Seu povo lotava as ruas estreitas dos subúrbios, em uma festa nunca antes vista e incapaz de ser igualada.

Até que houve um Sábio mineiro chamado Santana que quis levar o poder de Zico para também elevar o Brasil ao topo do Planeta. No entanto, para o azar dos brasileiros, a camisa da seleção não era rubro-negra.

Feliz do povo carioca que usava as duas cores místicas. Eles sim tiveram o Mundo aos seus pés e Zico como um Rei.


Por Helcio Herbert Neto.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ronaldo; Tragédia e Farsa



















“Todos os fatos e personagens de grande importância do Mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes (...) a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa” *. A partir desse modo de interpretar os acontecimentos, pode-se analisar a carreira estrelar daquele que foi o Camisa Nove da Seleção Brasileira por uma década.

Ronaldo estava no ápice. Era o mais decisivo, mais encantador e mais elogiado jogador de futebol do Planeta. Contudo, essa fase impressionante do atleta foi interrompida por uma lesão gravíssima.

A contusão que vivera era aterrorizante, levara a questionar se ele voltaria a andar sem seqüelas. Para a recuperação, era demandado um longo tempo de dedicação. Após esse tempo que parecia não passar, após as exaustivas seções de fisioterapia, após a perda de quase todas as esperanças, ocorreu o inesperado: Ronaldo Brilhou.

Na Copa de 2002, ele liderou seu país na conquista do Mundial, foi novamente extraordinário. A Terra assistiu pelos televisores a revira-volta pela qual a vida daquele indivíduo passou, admirando o espetáculo da superação humana.

Depois a primeira Copa do século, ele prosseguiu tecendo sua carreira, seguiu sua vida. Continuava a ser uma estrela,com salários astronômicos, com belas apresentações nos gramados e com todo o Glamour de um astro. No entanto, mais uma lesão grave surgiu em seu caminho.

E a história se repete. O personagem se aproxima do fim da carreira, voltam as cenas em hospitais, o martírio da fisioterapia, a dor. Quando tudo, mais uma vez, se mostra obscuro e adverso, o Camisa Nove triunfa.

Ao retornar ao Brasil, pratica um semestre de futebol de alta qualidade. Calando os críticos, leva o seu time a duas conquistas, sendo uma delas em âmbito nacional. Entretanto, nesse segundo momento, a conjuntura já não similar aquela vivida em 2002.

Longe dos grandes palcos mundiais, com mais idade e acima do peso, Ronaldo já não compõe aquele espetáculo. Sem ter como platéia toda a população mundial, o jogador apresenta um crescente desconforto com a realidade. Apesar de mais uma bela lição dada aos pessimistas, o craque não se mostra satisfeito.

Como conseqüência, surge uma desmotivação visível no ídolo. Sua marca registrada, o sorriso, torna-se escasso, quase quinzenal. Dessa maneira, ele já não apresenta aquele élan nos treinamentos o que contribui para a deteriorização de seu condicionamento e, por conseguinte, para fracas apresentações nos jogos de seu time.

Portanto, Ronaldo apresenta-se atualmente como farsa de si mesmo. Longe daquela estrela que foi capaz de mudar uma situação dificílima, o jogador definha perante as câmeras. Hoje, o Camisa Nove é apenas uma sombra sentada à beira do caminho, à espera de um fim de carreira apoteótico.



* Trata-se do trecho inicial do 18 Brumário de Luís Bonaparte, de Karl Marx.



Por Helcio Herbert Neto.