quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Profissão Nômade

Existem profissões capazes de serem executadas durante anos pelo mesmo profissional, na mesma empresa. Um trabalhador é capaz de conviver dez anos no mesmo ambiente, com  as mesmas pessoas, sem entrar no mérito da obrigação e da monotonia que sua vida pode se tornar, mas se for preciso ele fica.

No futebol as coisas são um pouco diferentes. Até existem os jogadores que passam cinco, dez, vinte anos no mesmo clube, criam vínculo, se tornam ídolos devido ao tempo de permanência na equipe, mas a maioria costuma jogar por diversos clubes, ficando por períodos curtos em cada um. Fico imaginando o desgaste, a dificuldade que é para esse jogadores trocar de cidades, estados, países ou até continentes constantemente. Para a familía, então. Imagina um jogador com filha(o) e esposa. Ter que ficar escolhendo escola, academia, hobbys por cada cidade que passam. Perder as amizades que fizeram, a casa que montaram, enfim, mudar tudo em função da profissão que lhe sustenta.

Mas aí chegamos na profissão mais nômade de todas, e no assunto central: o técnico de futebol. Existe alguém capaz de ficar menos de dois meses em uma empresa, não por competência, mas sim por uma simple escolha do seu superior. Escolha baseada em nenhum motivo que lhe condiz, e sim por uma questão cultural de que tudo que acontece no time a culpa recai sobre você? Sim, no futebol tudo é possível.

Casos recentes como o de Cristóvão Borges, ex-técnico do Vasco, retratam bem como é a profissão de técnico, mais específicamente no Brasil. Cristóvão assumiu o Vasco em 2011, após o então treinador Ricardo Gomes sofrer um AVC. Desde então, o time de São Januário nunca esteve fora da zona de classificação para a libertadores. Em 2012, o treinador teve perdas significativas no elenco, a diretoria não repôs à altura, o time teve uma queda de rendimento, mas, mesmo assim, sua pior posição era o quarto lugar. Cristóvão não tinha a simpatia da maioria da torcida, que alegava que ele fosse retranqueiro e constantemente o chamava de burro. Mas como pode um cara que coloca o time no G-4 por 48 rodadas, com um time desfigurado ser ruim? Coisas de "torcedor". Enfim, a goleada contra o Bahia em casa foi a gota d'água para que a situação ficasse insustentável e forçasse o pedido de demissão de Cristóvão Borges, depois de pouco mais de um ano no comando do Vasco. Para os padrões brasileiros, até que foi muito tempo.

Agora quem sofre com a pressão é Luiz Felipe Scolari, o Felipão, possível futuro ex-técnico do Palmeiras. Depois de levar um time medíocre ao título da Copa do Brasil deste ano, extraindo o máximo de futebol do elenco que tinha em mãos, o treinador pentacampeão do mundo com a seleção provavelmente deve sair do alviverde, que está na zona do reixamento (posição merecida pelo time que tem).

Enfim, vida de técnico de futebol é assim, sujeita a mudanças constantes de lares, cidades, etc. Às vezes por pressão da torcida, outras por conflito de idéias com dirigentes... O fato é que no Brasil, nunca teremos um Alex Ferguson (no comando no Manchester United da Inglaterra há 26 anos). Bem que o brasileiro poderia ser assim tão exigente em questões como a política, né? Mas aí já é querer demais.




Por Felipe Exaltação.

4 comentários:

  1. Respostas
    1. O espaço é de livre opinião, mas é interessante revelar a identidade pros debates prosseguirem.

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  2. Em sua pergunta do último parágrafo vc disse tudo Felipe!!!! Hahh se o brasileiro fosse assim em outras áreas.....
    Bem, às vezes acho que o treinador de futebol ganha dinheiro demais, mas analisando sob o seu prisma, tenho que concordar com eles, tem que cobrar salários astronômicos mesmo, pois são desrespeitados a toda hora e não tem segurança nenhuma para exercerem seus trabalhos!!

    Abraço, e parabéns pelo blog!!

    Glenyo Lopes
    Goiania

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    1. É uma questão cultural do brasileiro mesmo, cobrar muito algumas coisas e ser muito acomodado com outras, ás vezes até mais relevante.
      Temos um texto onde falamos dos salários astronômicos do futebol (http://futebologiabrasil.blogspot.com.br/2012/04/e-o-salario-o.html), os técnicos fazem parte desse mundo, só que sem a certeza de que poderá exercer seu trabalho por completo.

      Um abraço, Glenyo. E continue acompanhando nosso blog, seus comentários são muito importantes para a gente.

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