domingo, 9 de setembro de 2012

Eu, que não cumprimento ninguém



É comum ver gente se prender a hábitos e costumes para regrar seu cotidiano. Trabalho às nove da manhã, antes, é claro, a tradicional lida no jornal e o café reforçado. Depois o trânsito gigantesco das metrópoles, o programa de rádio usual, o beijo morno na esposa, cama às onze, impreterivelmente. Tudo bem, não somente os aceito como os respeito, e muito. Entretanto, é importante fazer algumas ressalvas, ainda mais quando esses dogmas quadrados, de arestas polidíssimas, entram com o pé na porta pelo esporte a dentro.

Não se trata de aclamar a abjeta idéia de inovar no manto, pondo uma camisa azul (e horrível) no Santos, antigo queridinho da crônica esportiva, pelo simples fato de romper com o tradicional. Há tempos que essa novidade vem assombrando o time da Baixada Santista e seu filho pródigo, Neymar. Mais uma apresentação neguébica na Seleção ontem mostra como, para os supersticiosos, a criatividade dos publicitários atingiu as atuações do melhor jogador do Brasil do ano passado.

Também não há aqui uma ode ao espírito iconoclasta de qualquer forma, somente por sua audácia e vanguarda. Nem mesmo ódio ao comum e cinza regrado roteiro dos ortodoxos. Talvez eu não seja o mais indicado para fazer essa crítica. Eu, que não gosto de cumprimentar ninguém somente pelo ato de cumprimentar. Principalmente ao me lembrar do sorriso amarelo que sempre vem depois da troca de beijinhos ou aperto de mão. Se é para se aproximar, que seja por conversa, não por moral.

Se não bastasse a onda de higienização que vem tomando conta do futebol, esvaziando e elitizando estádios pelo país, se não fosse suficiente o batalhão de assessores que torna quase impossível a aproximação de jornalistas e torcedores com os jogadores, agora puseram juristas na parada. Tudo bem, aceito o empoeirado argumento da “Ordem”. Mas suspender o Loco Abreu por beijar o emblema do Botafogo, no Figueirense e Flamengo do primeiro turno?

Exagero. Tratar a relação de um atleta com seu ex-clube como desrespeito é incentivar a falta de identidade no “nosso” antigo esporte. O resultado de tudo isso é ver a antiga alegria do povo, a Seleção Canarinho, reduzida à uma empresa digna de caixa baixa, a seleção da CBF. A atitude, que pode realmente se consolidar na terça-feira, é mais um dos aspectos desse atentado à proximidade de pessoas com entidades que, tudo indica, vai culminar na transformação dos times em franquias, sistema semelhante a esse que espalhou McDonalds pelo mundo.

Considero isso tudo um atentado à naturalidade, que tranformou o futebol no esporte mais apaixonante do planeta. A simplicidade, que encanta e mobiliza massas, vem agonizando aos poucos. Contudo, é um ponto de vista individual. Encontro poucos por aí dispostos a avolumar o som desse Bloco do Eu Sozinho. Eu, que vale ressaltar, não cumprimento ninguém.









Por Helcio Herbert Neto.

Um comentário:

  1. Caro Helcio, concordo em gênero, número e grau com suas palavras, infelizmente o mundo está se tornando um porre daqueles tomados com a pior das bebidas!! É muita hipocrisia, muito não me toque.... Muito mimimi..... Não sei se vc leu, mas de qualquer modo transcrevo abaixo o texto do Rica Perrone (www.ricaperrone.com.br) que descreve uma hipotética "carta a Loco Abreu" e demonstra a mesma sensação que pessoas como vc, eu, alguns outros gatos pingados enxergam da atual realidade midiática esportiva do futebol brasileiro, a realidade das chuteiras arco-íris, do "super criativo" João Sorrisão, da música do fantásticos, das dancinhas e mais dancinhas , entre outras idiotices virais que se tem por aí....

    "Caro Abreu,

    Não o conheço pessoalmente mas por meio da mídia e do meu trabalho sei muito a seu respeito. Venho através deste post sugerir que faça uma simples interpretação dos fatos e se aposente.

    Você não pode mais jogar futebol, Abreu.

    Todo jogador sofre quando para, mas é preciso parar na hora certa. A sua, após o beijo, é agora.

    Quando fez a paradinha, foi maluco. Quando errou, irresponsável. Quando apaixonado pelo seu país, “patriota”, quando pelo seu ex-clube no Rio, irresponsável de novo.

    Você é do tempo que cuspir num adversário era parte da provocação, mas errada. Puniam, te tiravam do jogo e talvez do próximo.

    Somos do tempo que beijar um simbolo também gera punição.

    A irreverência é mais perseguida que a violência, pois os caga-regra do futebol moderno não conseguem suportar alguém com dinheiro, fama e ainda por cima personalidade. Então, enquadram. Transformam todos em robozinhos programados para no máximo pentear o cabelo e colorir a chuteira.

    Você não. E por isso, não cabe mais no nosso futebol.

    Você é nossa “ovelha negra”, ou alvi-negra. Aquele que pensa, que se garante, que tem ideais, conceitos, se impõe e que não repete o que todos esperam ouvir.

    Quem beijaria o simbolo de um clube estando em outro, mexendo com uma torcida e, quando julgado, seria defendido até por ela?

    Chega, Abreu. Sai fora, isso aqui é pra meninas, robôs ou, no máximo, inteligentes marketeiros que vivem conforme a mídia quer.

    Puniam por cuspir, agredir, brigar. Depois, por comemorar. Agora punem por beijar.

    Sai fora, Abreu!

    Não merecemos você.

    abs,
    RicaPerrone"

    Hahh, só pra não esquecer.. Parabéns pelo blog!! Nota 1000!!

    Glenyo Lopes
    Goiania

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