quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Quando acaba o tesão



Quando eu era mais novo, como toda pessoa mais nova, acreditava em tudo. Não me refiro ao Velho Noel, mas aquela balela completa que todo jovem razoavelmente engajado e uma meia dúzia de adultos xaropes acreditam. Opressão, revolução, luta de classes... e, em pleno ano de 2005, eu enxergava o mundo com os olhos da Guerra Fria.

Alguns anos se passaram, fui descobrindo traumas que eu nem sabia que tinha – não tantos quanto eu deveria para me tornar célebre -, adquirindo outros pelo caminho, criando vícios, intolerâncias, e lendo mais Bukowski do que o saudável.

Hoje, o inconformismo intelectual me serve de esconderijo para a minha covardia e falta de vigor, como se o mundo estivesse morrendo de medo da minha indignação. E não há indignação no fim das contas. Há só uma enorme resistência a levantar da cama todos os dias, pois se a vida é predominantemente um saco, a melhor saída é, então, o menor esforço.

O que sempre me motivou a tirar os pés da coberta e a não explodir a bomba atômica que guardo na segunda gaveta do armário do meio foi a paixão. Esse sentimento de gente desequilibrada, que move o mundo; os adeptos da experiência visceral. Flertes, fodas, bichos de estimação, álcool, música, poesia, futebol, qualquer coisa que liberte e nos faça lembrar que estamos vivos.

Mas talvez estejamos mais perto do fim do que imaginamos. Não um fim físico, do 2012 apocalíptico encerrando o universo da mesma forma que começou. Um fim moral, emocional. Tenho a impressão de que a música tem sido menos música a cada show visto, que o cinema tem sido menos cinema a cada filme assistido e que o futebol tem sido menos futebol a cada temporada acompanhada. Para que tudo se torne virtual, há que se esvaziar o material. Inclusive – e principalmente – as pessoas. Nostalgia? A quem ler 1991 na minha identidade vai ser difícil aceitar a refutação.

O fato é que o grito sai abafado por mais esforço que eu faça. Minha falta de tesão não me permite o heroico brado retumbante, não. Seja para endossar a bonita campanha do deputado Marcelo Freixo à prefeitura do Rio, ou para salvar a bisonha do Flamengo no Campeonato Brasileiro.





Por Beto Passeri.

Um comentário:

  1. Caro Beto, pelo seu texto nem precisar falar explicitamente que tu lê Bukowski, não que isso seja uma crítica, muito pelo contrário, mas suas palavras já te entregam.... Enfim, em relação ao seu texto, tenho que reconhecer que este sentimento por você descrito, também me assola de vez em sempre, mas também lhe digo que são pessoas como você e seus amigos deste blog que fazem que eu não esmoreça e que não perca a paixão pelas coisas, principalmente pelas mais simples.... Ler vossos textos, me faz sentir vivo, é como ouvir uma bela música, ver um bom filme, conhecer novas culturas, tomar uma coca-cola bem gelada sob um sol escaldante.... enfim perceber que há pessoas que pensam de forma diferente da grande maioria que tem por aí.... Parabéns pelo blog!!
    OBS: Deixa de ser flamenguista que vc vai melhorar bastante!!! Rssss, brincadeira de um botafoguense doente, se é que isso não é redudância....
    Abraço!

    Glenyo Lopes
    Goiania

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