segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Monogamia


Nossa geração não tem paciência para o amor. Na realidade, não tem para quase nada. Mas o amor, especificamente, me chama atenção. Prometo passar pelo futebol, mas não antes de fazer esta reflexão. Percebe como incomoda só o fato de você saber que falarei de amor?

Isso é esquisito. Você tem certeza que qualquer coisa que eu falar você já ouviu. Que não importa o tamanho do meu esforço, minhas palavras serão piegas e meu texto, clichê.

Isso acontece porque o amor se perdeu no tempo. Séculos e séculos de palavras iguais (ou não), mudando só a forma como eras dipostas. Românticas, parnasianas, modernas, familiares... Eis que o amor se encontra com uma geração que não tem saco para reflexões, nem tempo para sentimentalismo. Amar dá trabalho (o amor é uma atividade laboral?) e estressa sem "retorno". E falar de amor então? Não faz sentido, uma vez que temos tanto conteúdo pronto e podemos reproduzí-lo. Logo, o amor não é mais o amor. O amor é o que se fala (e falou-se muito) do amor, ou seja, é um mito.

É, o amor é o maior mito da sociedade pós-moderna (é assim que dizem?). Todo mundo acha que sente, que sabe falar sobre, mas ele está lá, abstrato, ultrapassado, cabisbaixo... Valores se distorceram, o relógio virou uma pistola de roleta russa engatilhada na nossa têmpora e estamos ansiosos. Nossa identidade é digital e perdemos os nossos sentidos. Condicionamos os olhos a não enxergar, o ouvido a não escutar e o tato a não sentir. Portanto, perdemos um pouco (leia-se muito) da nossa condição humana e não há nada mais difícil, hoje, do que falar "te amo".

Esta geração não está perdida, apenas nasceu acreditando nisso. Mas, de fato, não sabe amar. Ou sabe? Todo amor que não vejo nos lares e a paixão que não encontro em cartórios, absorvo nos estádios lotados ou nos bares em chamas num domingo de bola rolando.

O futebol não é, como muitos dizem, nosso maior amor. Deste ponto de vista, é o único. Não temos necessidade de falar sobre o fenômeno e contribuímos, assim, para que ele não se torne mítico, como a aliança de ouro num dedo anelar.


Por Beto Passeri.

2 comentários:

  1. Xiiii,CRIANÇA!! Pela quantidade de lugares vazios nos estádios e a substituiçaõ,gradativa mas intensa,das piadas,brincadeiras insurpotáveis e afins pela violência desmedida,lamento informar que mesmo este,que parecia ser o amor mais constante e fiel,está se desmilinguindo.Nem por nossos times,nutrimos mais aquele amor romantico, que vivia da espectativa e nos fazia segui-lo,sofridos mais entregues,a qualquer parte,em qualquer circunstância.Agora,se voce,Beto,ainda tão menino,(não fique com raiva,é um elogio!),já se banha na nostalgia,imagine o que acontece comigo que sou do tempo da Copa Roca?Que vi Pelé jogar? Me rasgo inteirinha amimguinho!Mas não desanime,enquanto os "últimos romanticos" persistirem,quem sabe ainda haja salvação?Abraços,Anna Kaum.

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