sábado, 3 de março de 2012

'Nós vamos criar um monstro'


René Simões sentenciou em 2010 na Vila Belmiro a frase mais impactante do futebol nos últimos anos. Após a vitória do Santos sobre o Atlético Goianiense, o então técnico da equipe do Cerrado usou da primeira pessoa do plural para apontar a culpa de todos os que compõem o universo futebolístico brasileiro na formação de uma monstruosidade chamada Neymar. É bem verdade que o transcorrer dos anos não deu apenas um herdeiro para a jovem promessa verde e amarela: com o desprender das folhas do calendário vieram a responsabilidade e o destaque no cenário global do esporte. Hoje referência, o Camisa 11 do time da Baixada Litorânea Paulista já não comete as indisciplinas de outros tempos. Contudo, o bradar de René se enche de sentido quando observado o comportamento tático dos times que tem o rapaz de cabelo moicano como estrela maior.

Em termos de habilidade e técnica, Neymar é indiscutível. Sua agilidade e capacidade de finalização o transformam no mais decisivo jogador brasileiro na atualidade. Entretanto, a obsolescência das estratégias adotadas no Brasil torna sua presença viciante, fazendo adictas as equipes que possuem essa importante peça. Quando vestindo branco, dez homens de mesmo traje aguardam uma magia qualquer para resolver os monótonos jogos do começo da temporada. Magia que, aliás, geralmente acontece. Contudo, quando em campo representando o time da CBF, apesar de todo o peso que é posto sobre seus estreitos ombros, o jogador não consegue ser magistral. E isso é perfeitamente compreensível.

Enquanto o Planeta reaprende o valor da coletividade pelo futebol, o time de Mano mantém-se preso a uma solitária estrela. Com o advento do Barcelona de Guardiola, seguido da infusão do mesmo espírito nas seleções da Espanha e da Alemanha, observa-se a difusão da ideia tática de conjunto, do aumento do valor do grupo em detrimento às particularidades em todo o mundo. Ainda alheio a esse pensamente, a seleção da CBF mantém um sistema com setores estanques e uma crença indefectível na capacidade da única estrela ofensiva em destaque no cenário mundial. E vem daí a desvantagem; os grandes esquadrões agridem os adversários com um front composto por onze e o Brasil tem um bravo e solitário guerreiro espartano.

Claro que o comandante técnico da antiga (e saudosa) Seleção Canarinho não é o único com culpa do cartório. O grupo dos selecionáveis não possui, como em tempos passados, estrelas de carreiras consolidadas. Basta ver o trio ofensivo que acompanhou o driblador de Santos na tarefa ingrata de furar a equipe Bósnia no mais recente jogo organizado pela CBF:  Hernanes, até outro dia volante, Leandro Damião, jovem centro-avante que passou os últimos seis meses se recuperando de grave lesão, e Ronaldinho Gaúcho, esse sim, de renome, mas que resiste na lista dos 23 por questões que não pertencem as 4 linhas. Todos  incapazes de auxiliar Neymar no trabalho de reencontrar a velha identidade ofensiva brasileira.

A situação de 'Último dos Moicanos' acaba por atrapalhar até o próprio astro pop. O desenvolvimento tático  do Príncipe de Santos é atrapalhado por essa falta de coletividade, encontrada tanto na seleção quanto nos clubes do país com mais títulos de Copa do Mundo. Ao examinar sua maneira de se portar em campo, torna-se plausível o questionamento sobre a necessidade da ida da maior estrela brasileira ao exterior. O diálogo com esse fantasma de coletivismo que ronda a Europa pode ser decisivo na evolução do mais promissor jogador que apareceu nesse território continental.

É inadmissível que todas as esperanças de título da Copa em 2014 residam somente ali, no canto direito da defesa dos adversários do Brasil. Por mais habilidoso e promissor que Neymar seja, é desumano delegar a um só homem a tarefa de resgatar uma cicatriz nacional existente há mais de 6 décadas, apagar o Maracanazo e levantar a taça no estádio que será erguido no mesmo lugar onde residia o austero 'Maior do Mundo'. Entretanto, ainda não é possível prever se realmente René Simões de alguma forma tinha razão e toda essa carga concentrada de responsabilidade vai resultar na criação de um franzino e megalomaníaco monstro.


Por Helcio Herbert Neto.

6 comentários:

  1. O BRASIL NÃO VAI GANHAR A COPA!!! ESTAMOS MUITO DISTANTES DA ESPANHA POR EXEMPLO!! E SABE DE QUEM VAI SER A CULPA??? PRA MUITOS IGNORANTES IDIOTAS, DO NEYMAR!!! A CULPA NAO SERÁ DA CBF, DO MANO, DAS FEDERAÇÕES ESTADUAIS (CAÇA-NÍQUEIS), DO CRESCIMENTO DESORDENADO DAS NOSSAS CIDADES, QUE ESTÁ ACABANDO COM OS CAMPINHOS DE VÁRZEA, FUTEBOL DE RUA, CAMPEONATOS DE BAIRRO, DE ONDE SAÍAM CRAQUES E ONDE OS MOLEQUES SONHAVAM EM SER JOGADORES!!! EM 2014 MEUS CAROS, TALVEZ O BRASIL SEJA MESMO O CAMPEÃO; CAMPEÃO MUNDIAL DE VIDEO-GAME!!! SALVE NEYMAR!!!

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  2. quero que o brasil nem passe na primeira fase em 2014 sou azzuri até a morte tenho vergonha de ter nascido nesse paiz imundo de corrupção ,terra sem lei italia penta campeão em 2014

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  3. Muito interessante os comentários ! Essa diferença de pensamento ficou clara, evidente, no jogo Santos x Barça. Eu realmente pensei, me iludi, que o futebol brasileiro iria tomar aquilo como lição e aprender que sem um conjunto muito bem introsado e que prioriza o passe de bola, não temos chance. Sou santista e reconheço as criticas feitas. Entretanto, acompanhando os ultimos jogos no campeonato paulista (menos o ulitmo), noto que já há uma clara evolução rumo ao melhor introsamneto, balanceamento em todos os setores do campo e consequentemente, menor dependencia do Neymar. Este jogador, alias, alem de todos os dotes tecnicos ja mencionados, amadureceu muito em relação a sua função em campo : atualmente é ujogador que decide, mas também cria oportunidades para os companheiros.
    Essa dependencia que se cria e, torno dele, na real é prejudicial a ele. Como ja comentado, pode criar a arapuca de que se não ganhar, o Neymar não jogou nada. Isso só esconde o real problema : equipes fracas taticamente, falta de jogo em conjunto, falta de toque de bola.

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  4. Espanha??? para......Azzurri..........seria uma boa na final, afinal sao fregueses mesmo........Eu quero mais é decidir com o Uruguai ou Argentina......O MELHOR FUTEBOL DO MUNDO É AQUI........

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  5. Mais um ótimo texto deste blog! Parabéns!
    Aliás, no Brasil não é só no futebol que não se pensa na coletividade... Essa característica começa no nosso dia a dia, basta percebermos as atitudes das maioria das pessoas nas simples ações do dia a dia. Basta olharmos para os péssimos valores que a nossas principais emissoras de TV aberta transmitem à sociedade, etc.... Há uma total ausência de coletividade e inteligência social, e sobra individualismo e ignorância em todos os aspectos da nossa realidade... (A propósito, voltando ao futebol, ficarei muuuuuuuito feliz se a seleção da CBF se ferrar nesta Copa do Mundo!!!!)

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