quinta-feira, 8 de março de 2012

A democracia da Copa do Brasil

                                Estádio  Estadual Lourival Baptista, que recebeu o jogo River Plate e Grêmio na noite de quarta-feira

Começa a primeira fase da Copa do Brasil e já se fazem audíveis os suspiros dos eufóricos que veêm na competição um exemplo singular de equidade. Todo ano é assim. Ao verem grandes times como Grêmio e São Paulo jogando em palcos não tão glomurosos como o Lourival Baptista ou o Mangueirão, esses entusiastas estufam o peito para ressaltar o caráter igualitário do torneio.  De tão repetido, o aposto 'Competição mais democrática do país' já se tornou um clichê. Mas seria isso verdade? Seria realmente um modelo democrático de disputa esse que vigora no maior mata-mata da nação mais vezes campeã da Copa do Mundo?

Desde sua criação, a Copa do Brasil já teve 22 edições. Dessas, apenas 5 foram vencidas por times que não constam entre os 12 maiores do país. Somente Criciúma,  Juventude, Santo André, Paulista e Sport foram capazes de bater a hegemonia dos grandes e levantar a taça. Entretanto, o título da competição não foi um marco para a mudança administrativa desses clubes. Muito pelo contrário. O exemplo do Sport Club Recife ilustra bem a trajetória desses 'Campões à Deriva': um ano após ganhar o título e a vaga na Libertadores da América, o Rubro-Negro de Pernambuco foi rebaixado para a segunda divisão.

A tal democracia fica mais distante quando observado o regulamento das duas primeiras rodadas da competição. Em caso de vitória por dois ou mais gols na casa do adversário, o vencedor elimina o jogo de volta. Como se não bastasse a perda da oportunidade de projeção da marca e, por conseguinte, do faturamento com patrocínio e publicidade, quando derrotado por placar elástico, o perdedor ainda divide a renda do confronto com a equipe vitoriosa. Assim, com metade da renda e fora da competição, as pequenas agremiações seguem obscuro e tortuoso trajeto rumo ao esquecimento da grande mídia.

Como entender quem vê democracia nesse modelo que favorece a hegemonia da liga dos mais ricos e populares times do cenário nacional? fácil. Basta entender a crença no mito da democracia política que ainda vigora nessas terras. Apesar do oligopólio vigente nas comunicações, da perpetuação de filhos da ditadura no senado e no congresso, da manutenção da pobreza em escalas estratosféricas e da calamidade que é o sistema educacional, ainda há gente que acredita que somos independentes e livres, senhores de nossos destinos. Muita gente se dá bem com a difusão dessa ideia, já que, em caso de insucesso, basta delegar a culpa a já enfadada ignorância do povo brasileiro, que é para muitos a culpa de todos os males que acontecem no país.

Enquanto aplaudem essa falácia, seja na Copa do Brasil seja na política, os poderosos brindam a perpetuação lá em cima, no topo da hierarquia. Os grandes times conseguem seus títulos, sua promoção e aumentam a arrecadação. Os políticos mantém o controle sobre tudo que acontece no maravilhoso país tropical. Já os marginalizados, esses seguem seu penar.

E ainda vêm me dizer de igualdade...

Por Helcio Herbert Neto.


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