terça-feira, 19 de julho de 2011

As Três Paradas no Limbo



Eis que surgem sinais do mal da instantaneidade: os craques que fizemos se mostram longe das expectativas; os vilões, demonizados por suas incompetências, já não são tão ruins assim. É assim no espetáculo da sociedade, é assim no espetáculo do futebol. A proposta de renovação integral se mostra inviável, incondizente ao sonho do hexacampeonato mundial. Chega a hora de aprofundar-se no solo das críticas, visitar os humanos heróis do Limbo.

A Copa América expôs a infantilidade da Seleção de Mano Menezes. Foi breve o sonho de um Neymar com faculdades de Pelé, capaz de superar frustrações de gerações passadas e levar sua equipe ao topo do mundo. Na primeira competição oficial pela seleção nacional, ele e seus promissores companheiros de ataque evidenciaram uma ansiedade adolescente e padeceram perante o Paraguai. Inviável creditar uma Copa do Mundo aos meninos do Santos e ao novo astro popstar Alexandre Pato.

Na Era do Marketing esportivo, das redes sociais, dos vídeos simultâneos, os grandes jogadores tornam-se deuses e os erros são como penas de morte. Modernizou-se tudo: a comunicação com a imprensa, os uniformes, a bola, os palcos. Somente os jogadores permaneceram humanos. Demasiado Humanos. O espetáculo criado em torno desses homens destrói a estabilidade psicológica. Cria zumbis; aqueles que seriam e nunca foram.

E, a partir de agora, o que veremos será a busca por esses degradados jogadores. Procura-se um homem que seja capaz de assumir a responsabilidade de ser o grande nome da Copa de 2014. Uma espécie de herói nacional, com a autoridade de recolocar o futebol nas prioridades nacionais, apesar de toda a negligência de Havelanges e Teixeiras. O técnico Mano Menezes vai visitar os grandes jogadores brasileiros da última década; todos em estado coma para o esporte.

A primeira parada, na Cidade Maravilhosa, prevê sorrisos e glamour. Ronaldinho Gaúcho, detentor do melhor futebol do novo milênio, anda deslumbrado com sua posição fora de campo. Mesmo longe da melhor forma, ele voltou a ser útil ao Flamengo neste primeiro quarto de campeonato brasileiro. As recorrentes reclamações das condições com as quais o Camisa Dez tem se apresentado para os treinamentos são o álibi do pensamento de Ronaldo. Os campos passam longe de ser a prioridade.

Outra parada será no coração econômico brasileiro. Na capital paulista, o técnico vai encontrar dores e incertezas. Adriano, entre polêmicas com a equipe médica do Corinthians e aparições públicas inesperadas, vai se recuperando da cirurgia no tendão. O Imperador é, de longe, o caso psicológico mais imprevisível. Também capaz de suprir a necessidade do ataque, Luís Fabiano segue em uma espera interminável para superar os problemas no joelho e estrear no São Paulo.

A última estação do Expresso Desespero encontra o maior prejuízo da história do futebol em Madrid. Kaká, a segunda maior contratação do time Branco da Espanha, ainda não foi capaz de apresentar um décimo de sua capacidade. A situação atual é tão complicada que deixa por terra a fortaleza da fé do Camisa 8 do Real. As contusões consecutivas desgastam a relação com a torcida do mais vencedor clube da Europa.

A prática da visita aos marginalizados não é incomum na cronologia dos times vencedores. Basta recordar: em 94, Parreira teve de recorrer ao desafeto Romário. Em 2002, Ronaldo e Rivaldo passavam por contusões e descrédito quando foram convocados. Os três foram imprescindíveis nas vitórias na Era pós-Pelé. O tetra e o penta vieram de jogadas oriundas dos pés de flagelados.

Os esquecidos e habilidosos Kaká, Ronaldinho, Adriano e Luís Fabiano voltarão a vestir a Camisa Verde e Amarela. Cercados pelo sentimento de ‘Saudade de tudo que ainda não vi’, os craques ainda têm muito que mostrar. Torçamos para que eles voltem e ressurjam das cinzas. Todos eles. Afinal, são esses casos geram idolatria. São nessas adversidades, nessas exceções que nos identificamos, que abraçamos as seleções nacionais. Daqueles que fizemos vilões, surgem ídolos. Mitos que contradizem o instantâneo de nosso tempo e se eternizam.


Por Helcio Herbert Neto.

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