domingo, 10 de agosto de 2014

Vã rivalidade

Mais uma guerra que interessa o estabilishment do futebol (Divulgação) 

O que aconteceu na tarde do Dia dos Pais de 2014, dentro Maracanã, foi mais um capítulo obscuro da recente rivalidade entre Flamengo e Sport. Ambos, trajando vermelho e preto (no caso da partida válida pelo Brasileirão, o time do Recife usou, excepcionalmente, branco) seguidos por multidões e colecionadores de títulos. O pernambucano só tem um nacional. E é aqui começa a oposição entre os dois clubes. Em 1987, Zé Carlos; Jorginho, Leandro, Edinho, Leonardo; Aílton, Andrade e Zico; Bebeto, Renato Gaúcho e Zinho foram campeões da Copa União. 

A escalação é um mantra quase tão presente na memória rubro-negra quanto o time campeão mundial de 1981. O torneio nacional foi organizado por uma incipiente liga de clubes -- o Clube dos 13. A dissidência dos principais emblemas brasileiros ocorreu após a Confederação Brasileira de Futebol decretar que não teria condições financeiras de conduzir o principal campeonato do país naquele ano. É importante lembrar desse último ponto. O Sport, por sua vez, ganhou uma espécie de segunda divisão naquele mesmo ano. Vale lembrar que a Copa União não seguiu a ordem classificatória do ano anterior, em gesto arbitrário. 

No entanto, na tentativa de cooptar a iniciativa de vanguarda, a CBF exigiu que os dois campeões se confrontassem. O Flamengo se negou e fez-se esse nó. Ricardo Teixeira, presidente da entidade máxima do futebol brasileiro, que assumiu em 1989, tomou para si a tarefa de prolongar o máximo a briga e usar a libertária independência daquela Copa União como símbolo maior da necessidade de prestar reverência aos cartolas das federações e da própria confederação. Ousados serão punidos. Um dos (tantos) legados malditos de Teixeira foi conseguir a implosão definitiva da Clube dos 13, ao fim de sua administração.

Para incentivar o ódio, por parte dos pernambucanos, foi evocado o discurso contra o Sul Maravilha, eixo Rio-São Paulo que, é bem verdade, peca com tanta frequência por um elitismo, típico no Leblon e na Avenida Brigadeiro Faria Lima. Usou-se também uma tal taça das bolinhas, em um drama tão desnecessário e longo que nem vale citação neste quinhão virtual. Portanto, é uma incoerência fantasmagórica defender, por exemplo, as reformas no calendário ou a criação de uma liga independente dos clubes brasileiros se, ao mesmo tempo, é levantada a bandeira que proclama o Sport como o vencedor de 1987.

Para quem se interessa pelo debate, vale assistir ao documentário "Copa União".

Por Helcio Herbert Neto.                                                       

  

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