terça-feira, 12 de agosto de 2014

Luiz Antônio, favelas e preconceito social

O que muros sociais têm para mostrar. (Natasha Montier/Divulgação)

Para ouvir ao som de "O Homem na Estrada" - Racionais MC's

A estética urbana das favelas e periferias simboliza muito mais do que a sindrômica precariedade nas políticas públicas de habitação no Brasil. Para tantos, as periferias e comunidades carentes são sinônimo de violência e barbárie. Nas vielas e guetos, está escondido o crime, em sua plenitude, pensam eles. Tal relação entre as regiões que enfrentam maiores dificuldades e a criminalidade é uma conclusão automática na cabeça de grande parte das pessoas e esconde o mais vil preconceito social.

Algo parecido com isso (em menor escala, óbvio) acontece quando se fala em Flamengo. As associações recentes entre atletas rubro-negros e narcotraficantes mecanizam ainda mais essas conclusões. O caráter popular do time da Gávea também. Luiz Antônio, volante do elenco do clube carioca, é investigado por relação com grupos paramilitares que controlavam um condomínio do programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal, na zona oeste do Rio. Mais uma comprovação para uma conclusão dos simplistas.

Em ambos ambientes -- o time de maior torcida do país e as áreas menos abastadas --, sobrevoa o mesmo mal: o abandono. A favela sofre com o ostensivo contato com um tentáculo do Estado, a Polícia. Militarismo e clima de guerra estão presentes, enquanto educação, moradia e saúde são escassas. A ignorância por parte do Poder Público e da maior parte da abastada sociedade civil gera um ambiente propício para a proliferação de violações. Vale ressaltar, embora a maioria seja de pessoas honestas nas periferias.

Existe uma condescendência muito grande, por parte das autoridades, com as direções dos grandes clubes brasileiros. Isso resulta na presença de personalidades de idoneidade duvidosa na administração das entidades e em grandes dívidas com o tesouro público. Andrés Sanchez, ex-presidente do também popular Corinthians, revelou-se, recentemente, foi acusado pelo Ministério Público Federal por sonegar impostos. Aliás, Andrés tenta se eleger deputado federal em outubro.

A negligência é reproduzida dentro do clube, também com jogadores e comissão técnica. A espiral de ignorância multiplica casos como o de Luiz Antônio. A condição social com a qual o jogador conviveu na vida inteira também o torna mais suscetível a essa convivência com milicianos, traficantes, policiais, políticos e empresários corruptos e corruptores. A estética da comunidade e a confusão turbulência interna no Flamengo, portanto, denotam o abandono e o retrocesso, além de escancarar o preconceito.

Por Helcio Herbert Neto.                                      


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