Disse há algum tempo aqui mesmo que, se é verdade que o
campeonato de pontos não mente, determinando como campeão o “melhor time”, é
verdade também que torneios de mata-mata, como a Copa do Brasil, tampouco
mintam. A questão é que esses campeonatos fazem perguntas diferentes, logo
respondem de formas diferentes, e falar em verdade e ou mentira não faz sentido.
O Brasileirão pede regularidade, consistência, peças de reposição, capacidade
de concentração, competitividade, tudo em longo prazo. Difícil, dificílimo. Em
geral, ganha o Brasileirão o time que consegue manter esses fatores em um nível
razoavelmente equilibrado durante a maior parte do ano.
Por isso discute-se, por exemplo, se
um Coritiba com o time bem armado, concentrado e com veteranos no comando pode
se segurar no lombo do touro por muito tempo. Alex já se contundiu, Deivid
também, o time segue fazendo partidas muito competitivas, mas começa a perder
fôlego. No perde-e-ganha de cada rodada, começa a perder mais do que já perdeu
outrora, e isso significa queda na pontuação no médio-longo prazo. Deve
terminar na primeira metade da tabela, mas longe do campeão. Por outro lado, o
Corinthians é citado toda semana como “um time que ainda não engrenou”. Não sei
não. A verdade é que o Corinthians perdeu apenas duas em 15 rodadas e levou
apenas seis gols. Seus jogadores se contundem ou são convocados para seleções
nacionais e entram outros de nível parecido (Guerrero por Pato ou Sheik, por
exemplo, ou Danilo por Douglas). Pode-se dizer que o time joga mal aqui e ali,
que às vezes não encaixa o jogo, mas não se pode dizer, do Corinthians que Tite
comanda há quase três anos, que o time jogou de sacanagem. Isso significa que,
no louco emaranhado de expectativas revertidas do campeonato, você pega uma
série de, digamos, cinco jogos do Corinthians e vê que o time ganhou uma ou
duas, empatou uma ou duas e, se perdeu, foi no máximo uma partida. Um time que
perde duas a cada quinze rodadas, em média, tende a acabar o campeonato com um
aproveitamento no mínimo razoável. Mas aí você coloca a capacidade de
substituição disponível no elenco, você pega o poder de mobilização da torcida
corintiana e você pensa que, na hora em que o torneio começar a afunilar, que
as vitórias começarem a ser efetivamente obrigatórias, a bola vai ficar mais
quente e pesada, o gol vai ficar menor, todo goleiro adversário vai virar um
gigante. E vê que, nessa hora, a tendência de um time como o Corinthians é ultrapassar seus adversários atuais. A uma competição que pergunta quem consegue ficar mais
tempo em cima do lombo do touro, no futebol brasileiro de hoje, 20 de agosto de
2013, eu respondo: Corinthians. Mas essa não é a pergunta que a Copa do Brasil,
que dá o pontapé inicial em suas oitavas de final hoje, com o Vasco visitando o
Nacional-AM em Manaus, faz.
E é por isso que a edição deste ano
promete tanto. Ao contrário de muitos anos anteriores, o futebol brasileiro
felizmente voltará a ter seus maiores clubes se enfrentando em jogos realmente
decisivos (vaga ou taça na beira do campo). Sou partidário do campeonato de
pontos corridos, acho fundamental que essa seja a principal corda tocada pelo
futebol nacional de um país ao longo de uma temporada, mas sou fã do mata-mata
e sinto muita saudade de ver os grandes clubes do futebol brasileiro se
mordendo. Cruzeiro e Flamengo, Santos e Grêmio, Botafogo e Atlético são os
primeiros, mas muitos outros ainda vão acontecer. Levou tempo demais para a
CBF entender que sacrificar os estaduais e a Sul-americana
em nome desse tipo de competição é uma decisão óbvia. Ninguém quer ver jogo
vazio na quarta à noite contra um Zé Ninguém da América do Sul, ninguém é
trouxa mais de querer manter a tradição dos finados estaduais, que deveriam
ser, no máximo, torneios de verão. Mas todo mundo quer assistir aos jogos dessa
semana. Passeie pelos canais dos torcedores nas redes sociais e essa
mobilização fica evidente.
Apesar da modernização do futebol
nacional, da arenização dos nossos estádios e outras falcatruas, essa temporada
está meio retrô. Galo e Botafogo são os times do ano, jogando futebol
brasileiro (apesar de, no caso do segundo, o comando ser de um
surinamês-holandês), o Maracanã, mesmo tendo passado na clínica do Dr.
Hollywood, está de volta, as torcidas têm intensificado a tendência de cantar
mais o amor pelos clubes que gritos de guerra contra outras torcidas, contra a
PM, contra o lateral ou o volante bisonho que eventualmente habita o escrete de
seus times. Tendência, aliás, que já vem de algum tempo. Essa Copa do Brasil é
a chance de fechar o ano retrô do jeito mais clássico possível: com um monte de
decisões emocionantes entre os clubes mais importantes do país (menos o São Paulo que, em função do título do ano passado, ficou preso à Sul-americana).
Tem arte, tem manha, tem
sobrenatural, tem foguete (ops, isso não tem), bandeiras e arquibancada. Tem
cancha cheia, tem zebra, tem de tudo. Dificuldade alguma se compara à
dificuldade de levar um Brasileirão de pontos corridos, mas algo me diz que o
título da Copa do Brasil 2013 vai ser quase tão gostoso quanto isso. É a
primeira vez, desde que me entendo por gente, que o futebol brasileiro vai
fazer as duas perguntas na mesma temporada: “quem consegue ficar mais tempo no
lombo do touro?” e “quem tem a manha de levar um mata-mata encruado entre todos
os grandes do país?”. A primeira ainda é possível responder sem parecer
lunático e eu já apostei no Timão. A segunda resposta, só se for nos búzios ou
no tarô. Faltam oito jogos apenas para o seu time ganhar um dos títulos mais
alucinantes que o futebol brasileiro pôs em jogo nos últimos anos. Ai, jisus!
Por Bruno Passeri.
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