sábado, 14 de abril de 2012

Entre Pelés e hiatos, um século



Neste sábado, o Santos completa 100 anos de história e, como todo grande clube, dá o que falar. Rende matérias especiais, entrevistas exclusivas, capas de revistas e jornais. Porém, não é tão simples falar da agremiação somente enaltecendo seus ídolos e suas conquistas, pois há também que se entender um pouco de sua história um tanto quanto intrigante.

Que é impossível fazer qualquer discurso sem colocar um a.P/d.P (antes e depois de Pelé), é óbvio, mas isso não é necessariamente uma exclusividade do Santos, mas de todo clube que teve uma fase áurea no passado e um grande ícone que a representasse (Botafogo do Garrincha, Inter do Falcão, Flamengo do Zico e por aí vai).

O que intriga é a cronologia insana do Santos Futebol Clube. É compreensível o começo difícil, a falta de títulos, mas depois que surge Pelé, o Rei, o Messias, e dá essa inédita dimensão global ao Alvinegro Praiano com a conquista de incontáveis títulos, nada mais faz sentido. O que era para se tornar ainda maior – ou talvez não – se apequena, sofre um hiato imenso e penoso em sua história, que só vai encontrar uma redenção verdadeira quase 40 anos depois. A geração de craques formados em casa, os “Novos Meninos da Vila”, devolvem ao Santos sua merecida reputação de gigante até chegar aos dias atuais, quando o tempo mais uma vez parece frear diante de uma nova era. A ascensão meteórica de Neymar catapulta o clube a uma dimensão que só Pelé – e talvez nem ele – tenha conseguido igual.

O início sem brilho e a Era Pelé

Impulsionada pelo grande escoamento de café em seu porto, a cidade de Santos crescia em uma velocidade assustadora no início do século XX. Com a paixão que Charles Miller havia emplacado no Brasil poucos anos antes, não demorou a se criar um clube de futebol na região. O uniforme, que no princípio era azul, branco e dourado, foi adaptado para o tradicional branco e preto por conta do custo de confecção. E com ele, o Santos Futebol Clube, fundado em 1912, sofreu no início. Por ser de fora da capital, o alvinegro era constantemente prejudicado pela arbitragem, e o único motivo de comemoração nos primeiros anos foi um Campeonato Paulista em 1935.

Mas tempos melhores – e como nem o mais otimista poderia prever – estavam por vir. Na década de 50, mais especificamente 1956, Waldemar de Brito, então técnico do Bauru, levou o garoto Dico, de apenas 15 anos, à Vila Belmiro. E a partir daquele instante, o Santos nunca mais foi o mesmo, assim como o garoto Dico, que virou Pelé. Na verdade, o próprio futebol nunca mais foi o mesmo. Com a genialidade do camisa 10 como eixo e a rotatividade de grandes jogadores como Coutinho, Pepe, Zito, Mengálvio, Clodoaldo, Carlos Alberto Torres, Edu, dentre outros, o clube alcançou suas maiores conquistas. Foram cinco Taças Brasil (atual Brasileiro), duas Libertadores, dois Mundiais, diversos Torneios Rio-São Paulo e Campeonatos Paulistas. Durante quase duas décadas, o Santos assombrou a todos, e Pelé foi assunto global mesmo sem a facilidade de informação que temos nos dias atuais. Maior goleador da história do futebol, com 1.281 gols em partidas oficiais, o "Rei" foi eleito, anos depois, o "Atleta do Século XX" por diversos Comitês Olímpicos. Poucas equipes na história conseguiram replicar o sucesso do Santos de Pelé, nenhuma por tanto tempo.

Pós-Pelé e o ostracismo

Com o fim da carreira do camisa 10, o Santos minguou. Numa espécie de movimento cardíaco de diástole (expansão) e sístole (contração), o clube caiu em um longo período de jejum após tantas conquistas. O Campeonato Paulista de 78, conquistado pelos "Meninos da Vila" e os vices-Brasileiros de 83, comandado por Serginho Chulapa, e de 95, pelo maestro Giovanni, são as melhores recordações alvinegras em quase 30 anos. Mas a conquista do Rio-São Paulo em 97 e da Conmbebol em 98 anunciam dias melhores para o Peixe no século/milênio que estava por vir.

Os "Novos Meninos da Vila" aos dias de hoje

Em 1999, Marcelo Pirilo Teixeira assume a presidência de um clube em frangalhos, mas investe na construção de um CT de primeiro mundo. Em 2002, os frutos finalmente são colhidos por Emerson Leão e, daquela base, nasce um time quase completo de garotos talentosos. Liderados por Robinho e Diego, os "novos Meninos da Vila" viraram febre e se sagraram campeões brasileiros. Com a base mantida no ano seguinte, o time que também tinha Renato, Elano, Alex e Léo, dentre outros, foi vice-campeão da Libertadores e do Brasileiro. Após mais uma conquista nacional em 2004, o time se desfaz, perde Robinho – maior ídolo do clube depois de Pelé – para o Real Madrid e volta a ser irregular.

Mas dessa vez, com uma estrutura montada e com a administração de Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, o LAOR, que manteve o investimento na base, a nova safra de craques demora pouco a sair. Em 2010, sob o comando de Dorival Júnior, o Santos de Neymar e Ganso, que teve também a volta de Robinho por empréstimo, vence o Paulista e a Copa do Brasil emplacando goleadas de sete, oito gols por jogo. Após o desentendimento com Dorival e consequente saída do treinador, o moleque Neymar amadurece e vira gênio, comandando o Santos no título da Libertadores em 2011.

Além de títulos relevantes, gols de placa e muitos dribles memoráveis, o marketing implacável do "menino moicano" colocou o Santos num patamar acima dos outros clubes brasileiros e sul-americanos. Carregando a imagem que representa a juventude de seu tempo, Neymar emplaca penteados esquisitos em filhos de torcedores rivais; com suas dancinhas despojadas, promove a camisa do Peixe para os cinco continentes; e, com as constantes recusas ao futebol europeu, alimenta expectativas de dias ainda mais gloriosos para o Santos Futebol Clube no ano em que comemora um século de existência, entre Pelé, Robinho, Neymar, jejuns e tanta história para contar.




Por Beto Passeri.

Um comentário:

  1. Alô Beto,boa tarde.Por ter aprendido a amar o futebol,para além do meu time,desde muito pequena,boa parte da história do Santos eu pude acompanhar.O futebol deve muito a este clube que deu ao esporte uma dimensão diferente,transformando em paixão e orgulho o que antes era só entretenimento.
    Hoje,novamente vem do Santos,um novo olhar para o futebol brasileiro,tanto no campo com Neymar,Ganso e esta geração dos "Meninos da Vila",como na figura de Luis Alvaro,que ao manter Neymar por aqui,abre um precedente importante e mostra que ficar pode ser tão bom ou melhor do que ir embora.
    Parabéns ao Santos e a nós que amamos o futebol e podemos contar com uma trajetória como esta.Abraços,Anna Kaum.

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