quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Revolução Silenciosa e o Azar dos Fatos



Sempre têm aqueles que mudam de opinião quando o resultado final anotado no placar desmente o modo de pensar anterior. Não é para menos. Desde que um pensador italiano, na metade do segundo milênio, sentenciou que vale tudo para alcançar um objetivo, a frase "o fim justifica os meios" pode ser ouvida em qualquer esquina, legitimando o ideal de que mais valem os resultados que os processos. Contudo, lá vem o universo do futebol, pródigo em apresentar alternativas. No caso, foi o Vasco que tratou e vem tratando de mostrar o grande valor das escolhas e da idoneidade do percurso.

O título do campeonato brasileiro de 2011 ficou com o Corinthians, todo mundo sabe. Mas o Vasco de Juninho e Felipe lutou bravamente pela taça até o último segundo do derradeiro jogo do segundo turno. Embora classificado para a Libertadores desde o meio do ano, quando venceu a final da Copa do Brasil, o time cruzmaltino permaneceu aguerrido. Garantiu um ano intocável, marcado por um espírito esportivo e por uma dedicação rara. Diferentemente de outros clubes que, acomodados com as faixas conquistadas no primeiro semestre, encararam o nacional de pontos corridos com ares de pré-recesso.

Passado o ano de 2011, as glórias decaíram sobre o campeão e o Vasco da Gama foi posto de lado. Atitude compreensível  na Sociedade do Resultado. Porém foi só começar o ano que a equipe de São Januário veio com mais uma atitude, mais gestos que ratificam aquela alma apresentada no ano passado. Enquanto o comportamento usual dos atletas diante do atraso dos pagamentos dos salários é uma passividade acompanhada do famoso corpo mole, o elenco do único time carioca da primeira divisão do brasileiro situado na Zona Norte resolveu ser ativo e digno. Na toada das greves e manifestações que aparecem desde o ano passado no Brasil e no Planeta, os homens que vestem a camisa da Cruz de Malta resolveram posicionar-se.

Como resposta a imperícia financeira dos dirigentes, o grupo de atletas resolveu não realizar a habitual concentração brasileira. Vale ressaltar que na Europa os jogadores se apresentam na manhã das partidas, exceto raras exceções. Essa informação só comprova o comprometimento dos vascaínos com seu trabalho, a preocupação em "honrar as cores do clube". Verdade é que o gesto em nada alterou o rendimento atlético em campo nas partidas que sucederam a decisão. O time é líder de seu grupo na Taça Guanabara e pode ser considerado um dos melhores do Brasil nessas primeiras fagulhas de futebol em 2012.

Contudo, veio a Libertadores e a primeira derrota no ano. Com certeza muitos esquecerão a capacidade técnica e tática que o Nacional do Uruguai mostrou na noite de quarta-feira. Esquecerão também as ausências de Rômulo, Alan e Fágner, jogadores de importância extrema, tanto na construção de jogadas de ataque quanto na solidificação do sistema defensivo. Entretanto, o mais triste é que muitos não esquecerão a altivez da  recusa à concentração do elenco. E é lógico que muitos ligarão a derrota a manifestação: erro de falsa causalidade. Sinceramente, torço para que tais opiniões não reprimam os debates e mudanças que a demonstração de personalidade desse grupo de homens deu início.

Por Helcio Herbert Neto.


4 comentários:

  1. Excelente texto...muito correta a perceção dos acontecimentos. Parabéns.

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  2. Vi o link que vc postou no site da ESPN e achei seu texto muito bom! Inclusive, eu escrevi no site o seguinte: eu sou a favor de que sejam excluídas as concentrações no futebol brasileiro. Os dirigentes e treinadores devem aprender a orientar seus atletas do que os mesmos podem fazer ou não no(s) dia(s) que antecedem as partidas. E se o jogador não fizer conforme as orientações? Multa salarial nele! A tendência é as coisas mudarem para melhor quando os jogadores não seguem aquilo que é dito e os dirigentes "mexem no bolso" dos jogadores. Por exemplo: quando um jogador chega atrasado em um treino e é multado, raramente ele volta a cometer tal erro (exceto casos de jogadores que são irresponsáveis mesmo). Creio que o mesmo aconteceria com os jogadores que não levassem a sério as orientações da comissão técnica e da diretoria do clube. Mas parabéns pelo post! Acompanharei seu blog com frequência desde agora! Abraço...

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    1. Em partes sem comentario faz sentido, mas a população em geral tem que parar de achar que jogador de futebol vive so do trabalho, Eu não sei do vc trabalha mas tenho certeza que vc não consegue trabalhar o tempo todo, e se um jogador é visto em alguma churrascaria, boate, ele é crusificado assim como Fred foi ano passado quando bebeu algumas caipirinhas e fo ameaçado por torcedores que não tem vida e cuidam da dos jogadores (ATITUDE PATETICA), e no jogo seguinte fez 4 gols, de fato as concentrações tem que acabar, ao menos diminui-las, e nada de multa salarial, ngm gosta que a empresa onde trabalha diga o que vc pode ou não fazer longe do seu trabalho porqe a vida é sua não do clube ou empresa, e porqe com o jogador tem qe ser assim, ele sabe qual é o seu ganha pão e sabe o que vai prejudica-lo no trabalho e o qe não vai, então na minha visão, jogadores podem fazer o que quiserem fora do seu local de trabalho é problema dele desde que cumprãom com oqe foi firmado no contrato. Parabens aos jogadores do vasco que honram com sua palavra, e que isso se torne exemplo !

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  3. Belo texto!! Adoro achar artigos como esse que fogem da rotina dos comentaristas de resultado (se ganha tá ótimo, se perde tá horível) que se proliferam cada vez mais nos programas esportivos no Brasil...
    Parabéns! Já "favoritei" seu blog""

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