terça-feira, 8 de novembro de 2011

Dividir para Conquistar


Nada mais propício para a criação de um ambiente amigável para a recepção de grandes espetáculos do esporte do que a fragmentação. Pelo menos é isso que demonstram as articulações de políticos e autoridades responsáveis por federações esportivas internacionais em relação ao cenário Brasileiro para a realização da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Em uma guerra de vaidades entre governantes, FIFA, COI e cartões-postais, os Estados da União acabam por dificultar a realização de eventos capazes de distribuir de maneira mais equânime possível as benesses trazidas nessa empreitada. E o pior é que a população assimila esse roteiro de intrigas e já o toma como seu.

É bem verdade que, historicamente, o processo de intensificação do federalismo é marcado por sístoles e diástoles. Geralmente os momentos mais tensos têm como estopim a saída de um líder carismático e o surgimento de um hiato no imaginário do povo. Basta recordar da efervescência das aristocracias após a saída de Dom Pedro I, exigindo a posse de um Imperador pré-adolescente, que recém saído das fraldas, haveria de tomar conta de um império tropical. Ou mesmo após a saída do Segundo Pedro, a implementação de uma República e a sucessão entre São Paulo e Minas Gerais na Presidência, que trouxeram insatisfação a vários outros estados do país. A Solução veio do Rio Grande do Sul e culminou no Populismo Varguista.

Após uma linhagem de presidentes populares, vem o Golpe e a vontade de calar reclamações. Um federalismo sem-graça, que mais partia de uma precaução Militar do que de uma vontade regional, já que nessa época eram escassas as vontades que ainda estavam, literalmente, vivas. Depois vieram a Anistia, a Reabertura, as eleições. O discurso de representação regional ficou de lado, esquecido quando observado o panorama político. Entretanto, nas relações do dia-a-dia, as rivalidades permaneceram latentes, mesmo que pequenas brincadeiras.

O bravo Rio Grande do Sul, seu platinismo e o distanciamento do resto do país; As rixas entre os estados nordestinos; A cisão do Pará; Os arquirivais Rio e São Paulo. Temas recorrentes nas ruas, bares, escolas e jornaleiros que, muitas vezes, entram até no cenário futebolístico. O bairrismo clubístico é um exemplo disso. E é desse discurso que os organizadores das Olimpíadas e da Copa do Mundo se apóiam para deixar de lado os anseios populares e dominar essa organização. Como no Imperialismo Europeu na Ásia e África no século XIX: dividir para conquistar.

É evidente a euforia no Rio de Janeiro, basta notar a especulação imobiliária. A Cidade-sede da Olimpíada de 2016 gera inveja dos governantes dos outros estados ao sorrir como nos tempos da Velha Guanabara, apesar de seu Maracanã deflorado e de sua gente varrida como poeira pelas remoções. Também é notório o afastamento de Dilma em relação a Teixeira e à FIFA. Contudo, dissociar o Maior Palco Popular do Mundo da Seleção Verde e Amarela é um pecado imperdoável, tal qual repartir a África como Pizza e saborear seus diamantes na sobremesa.

Aproveitando-se da conjuntura, a CBF distribui os jogos para estados de Tucanos, rivais do PT, como resposta a falta de carinho da Presidenta. Assim, incentivou mais o choque entre os moradores de localidades diferentes do Brasil. Fazem parte da mesma estratégia o leilão pela partida de abertura e pelo centro de imprensa, e a criação de estádios que mais parecem discos voadores alienígenas em áreas com pouca expressão no cenário da bola. Juntam-se ao Circo as bajulações de prefeitos e governadores e uma suposta vitória no embate com a FIFA na questão da meia-entrada na Copa. Tudo politicagem barata que fomenta um amor cego ao estado esquecido há anos.

Quilometricamente distante dessas discussões está a luta pela chegada do desenvolvimento ao povo brasileiro por meio desses eventos esportivos que o país receberá. Longe do noticiário, abandonadas nos cantos de páginas, a varredura das favelas para a Zona Oeste, o esquecimento do esporte educacional e a manutenção do controle dos transportes nas mãos de um pequeno e ganancioso grupo de empresários que pouco se importa com a eficiência do serviço prestado parecem não ter importância. O necessário é saber quanto o rival do estado ao lado perdeu na distribuição de migalhas na porta da Igreja da FIFA: enquanto começa nossa briga tribal, enchem-se os bolsos do Comando Delta.


Por Helcio Herbert Neto.

Um comentário:

  1. Toda vez que me deparo com situações como essa e olho para trás,fico cansada e me pergunto para onde foi o senso crítico,o olhar atento,o hábito saudável de ler nas entrelinhas que a minha geração tinha e que jurava que as futuras iriam consolida-la.Em que momento será que nós abandonamos o barco e achamos mais seguro e confortável agir como cordeiros,se deixar manipular?Fingir(ou sinceramente)não ver o óbvio,tal e qual avestrúz com a cabeça socada num buraco?
    Futebol,sempre foi sinônimo de paixão e paixão,por melhor que seja,é sempre cega e talvez eu esteja idealizando,perdida nas lembranças,presa naquele espaço onde até o que é ruim,com a distância,fica bom mas custo a crer que tanta "cáca" jogada na nossa cara,há alguns anos atrás,não provocaria um barulho dos diabos.É triste perceber que sem personificação,a maioria não sabe diferenciar o joio do trigo e se contenta com o que lhe dão sem questionar.No fundo,sei que valeu a pena,que só se aprende a andar caindo mas,vez por outra,me pego perguntando,será que ninguem aprendeu nada?
    Credo,tô melancólica que dá enjôo mas não deixa de ser o que penso!
    Quanto ao agradecimento,adorei o mimo mas o mérito é de vcs!Abraços,Anna Kaum.

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