quinta-feira, 16 de junho de 2011

Narcisismo


Me incomoda profundamente o discurso patriótico adotado pela imprensa esportiva (aqui estou toscamente generalizando) de que o futebol brasileiro é sempre melhor. Essa fala foi perpetuada ao longo dos anos, de cinco Copas do Mundo e de 14 títulos de Libertadores. Tudo bem, concordo que o Brasil é a maior potência do futebol mundial, o maior celeiro de craques e, como tal, merece todo respeito. Mas também há falhas no nosso futebol, sobretudo quando se trata de Libertadores, e isto ninguém quer apontar.

Isso é jornalisticamente condenável; para que estudos acerca do futebol se, no fim das contas, vamos todos “Galvanizar” e dizer que só o Brasil merece a vitória sempre? Eu nunca fui da turma que defende total imparcialidade, pois acho que isso sequer existe, mas há um limite – até para poder haver uma análise distanciada do que está acontecendo.

Eu já não sei se tal fenômeno é consequência da “preguiça” de se dizer outra coisa ou se é um apego (talvez até uma alienação) pelo mito do “futebol arte”. O fato é que já cheguei a ouvir até que “falta mais brasileiro no Barcelona para ser perfeito”. Que espécie de argumento é esse? Um dos maiores times da história do futebol, que joga o verdadeiro “futebol arte” e falta mais brasileiro por quê?

Ontem foi a vez do Peñarol ser colocado de lado: “Esse time do Peñarol só saber dar chutão e conta com uma bola espirrada para ganhar o jogo”. Ninguém chega numa final de Libertadores eliminando Internacional, Universidad Católica e Vélez – todos bons times – contando com bola espirrada; isso é falta de conhecimento. Passar o jogo inteiro dizendo que o Santos é muito superior tecnicamente é pobre, até porque não era o que se via em campo simultaneamente. Se o Santos conta com um Neymar pouco inspirado/bem marcado – como foi ontem – não é essa potência toda que os comentaristas gostam de exaltar.

Eu sou apaixonado pelo futebol brasileiro; acho que temos um jeito de jogar único e jogadores que dançam com a bola nos pés. Mas eu também sou apaixonado pelos outros estilos de jogo e acho que eles devem ser respeitados. Assim como penso que o Barcelona não precisa de mais brasileiro coisíssima nenhuma, também penso que o Peñarol não precisa aprender a pedalar para ser considerado um bom time. É o time com maior número de participações em Libertadores (38), um dos maiores campeões (5 vezes) e nunca jogou muito diferente de ontem. Simplesmente porque esse é o futebol uruguaio: raçudo, marcando forte, embolando o meio-de-campo e se aproveitando de bolas paradas. Isso é feio? É a anti-arte? Eu não vejo desta maneira.

É mais fácil mesmo perpetuar o discurso batido de que o futebol brasileiro é superior e,se perde, é por uma infelicidade. Pode ser que semana que vem, no Pacaembu, o Santos jogue o “futebol moleque” e seja campeão. Mas o que vi ontem foi a pegada do Peñarol dominando o jogo, ganhando todas as divididas (o que falta para o Brasil muitas vezes) e criando as melhores oportunidades. No Uruguai devem estar dizendo que o Santos deu sorte. Perspectivas...


Por Beto Passeri

Um comentário:

  1. Alô Beto,bom dia!Adoro o meu país,conheço alguns outros lugares por aí mas tenho absoluta convicção de que,com tudo e apezar de tudo,este é o melhor lugar do planeta.Sou completamente apaixonada pelo futebol Brasileiro,sou capaz de admirar outros estilos e reconhecer outros talentos mas sempre acabo achando que igual ao nosso não tem mas concordo com vc.Eu sou tarada,ufanista e vai por aí a fora mas não sou cega nem burra,infelizmente,já vai longe o tempo em que eramos,realmente,os melhores do mundo,os incomparáveis e as causas deste declíneo são longas e complexas e o pior deste discurso inflado e fantasioso é não permitir que a maioria das pessoas enxerguem o óbvio.De desrespeito em desrespeito cada dia ficamos mais distantes do posto que justamente,ocupamos um dia e mais próximos de um arremedo mal feito do futebol estrangeiro,no campo e fora dele.Abraços mil,Anna Kaum.

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