quinta-feira, 5 de maio de 2011

Apaixonado por "assombração"


Ontem, aproximadamente 14 milhões de pessoas levaram as mãos à cabeça quando chegou ao fim mais uma rodada dessa impiedosa tal de Libertadores. A noite foi terrível para quatro grandes clubes do futebol brasileiro e, vai, para o Brasil, apesar de eu não me sentir comovido por esse tipo de patriotismo (cada um tem o seu time, seja aqui ou na Bolívia). Mas ai de quem disser que foi terrível para o futebol.

Para os verdadeiros amantes do esporte (excetuando-se os magoados torcedores), houve motivos para sorrir na “noite mal assombrada" do Brasil na Libertadores. O improvável fingindo que é por acaso e tirando sarro dos que ainda duvidam do futebol. Não me canso de admirar essa mística que o envolve, essa mania de mudar o destino que parecia certo, essa vontade de assoprar a bola da classificação de um na trave e a de outro, no barbante.

O Guerreiro campeão brasileiro, o Colorado campeão da América, o eterno Imortal e a Máquina Celeste. Desses, uma história épica e um final feliz - mais uma Libertadores para o Brasil que se encontrava novamente em vantagem numérica nas oitavas. Nada. Caíram um a um. Tirando o Grêmio, todos pareciam com meio caminho andado. E esqueceram que no futebol isso não existe. No meio deles o Fluminense, que já havia contrariado a matemática, ignorou a falta de lógica do mundo da bola.

Qualquer esporte está sujeito a esses dramas, claro, mas com que frequência e em que intensidade? Quantas vezes vamos ver o Lakers deixar escapar, em casa, uma classificação nos playoffs para um time de pouca expressão? Quantas vezes o Phelps vai entrar na piscina e chegar metros atrás de um semi-desconhecido nas Olimpíadas? Talvez as comparações nem sejam as melhores, mas são suficientes para transmitir a ideia.

Algumas pessoas estudam economia e mercado para compreender o mundo. Outras, a psiqué e o comportamento humano. Eu escolhi o futebol. Passei bastante tempo me censurando por isso, até que fui procurar alguns argumentos para me iludir e, por fim, acabei convencido de que realmente valia a pena. Para muitos, só um esporte, só um entretenimento incrivelmente popular.

Para mim, a maneira mais fácil de dizer as coisas. Quase ninguém quer ler e discutir sobre o senado, mas a CBF e o Clube dos 13 encontram bastante público. Ruim? Nem tanto se pensarmos que não deixa de ser política. Economia então, nem se fala, dá até arrepios. Mas e o mercado futebolístico brasileiro com poder de compra que não tinha outrora? Quase todos querem entender e dar palpite. Isso não ajuda? Não educa?

O futebol mistura política, paixão, economia, direito, fé, sociologia e o que mais for. Lindo. E talvez a explicação para sua popularidade nem esteja nisso tudo. É o fato de ele ser a própria vida, em quatro linhas. É simplesmente a imprevisibilidade, são aquelas energias estranhas que de vez em quando invadem os gramados. É a vontade de culpar qualquer coisa quando não dá certo. É não ter o controle sobre absolutamente nada e por mais cético que seja, no último pênalti, rezar sem saber para quem. O choro quando a bola entra lá e o choro quando a bola entra aqui. Beber para comemorar e beber para esquecer.

Por mais paradoxal que seja, no fim das contas, não tem vencedor e nem perdedor. Um enorme ciclo de angústias e felicidades, dia após dia, década após década. Uns mais, outros menos, mas todos para o mesmo lugar.


Por Beto Passeri

2 comentários:

  1. Alô Beto,bom dia!Com palavras menos sábias e poéticas,acabo de escrever sobre o mesmo assunto em meu blog,portanto não tenho nem mesmo uma linha a acrescentar ao que vc disse.Futebol é,sem dúvida,fascinante e quem ainda não se deu conta disso,não sabe o que está perdendo.Parabéns,abraços,Anna Kaum.

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  2. P*&%¨$-que-p#$%&@iu!!! Bom demais. É isso mesmo: fractais, tá ligado? Toda a vida está contida em cada parte da vida. Uma delas, essa coisa inexplicável que você decidiu abraçar com as palavras, queé o futebol.

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