quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Cem anos por seus ídolos


Toda história é composta por pessoas. Agentes que são capazes de feitos estonteantes, narcotizantes, que, por gerações, serão lembrados com tom de nostalgia. Dessa forma, para compreender a relação dos torcedores com essa entidade que completou cem anos esse mês, devemos abrir o livro da história do clube nos capítulos de três desses ídolos.

Roberto Rivelino era um jogador excepcional. Sua técnica e agilidade eram indiscutíveis. Sendo assim, ele surgia como um messias, como um salvador que traria a redenção após quase vinte anos sem títulos. Entretanto, o futebol nem sempre reconhece com títulos aqueles que, indubitavelmente, são merecedores.

Em 77, ao perder a final para o Palmeiras, todas as injúrias da derrota são delegadas ao craque. Inconsolável, Rivelino decide voltar pra casa a pé, comungar do sofrimento de seus irmãos, torcedores do mesmo time. A dor foi tanta que Rivelino mudou de clube, vindo, na ocasião, para o Fluminense.

Na década seguinte, um Doutor marca a História Alvinegra. Com o mesmo nome do filósofo da Maiêutica, Sócrates expunha suas idéias nas mesas de bar. Fumante assumido, o jogador foi alvo de críticas incessantes. Contudo, suas apresentações nos gramados eram irretocáveis. E foi devido a essa junção de intelecto e habilidade que ele liderou um movimento que ultrapassou as quatro linhas.

O Brasil ainda vivia a Ditadura. Em meio a relativas aberturas, o futuro do país estava incerto. Entretanto, com a intenção de promover o debate sobre a participação do povo na política, Sócrates instalou a Democracia Corintiana. Por meio desse sistema, o voto de todos os integrantes do clube tinha o mesmo valor, influenciando nas decisões tomadas. Nesse período, o clube alcançou seus objetivos, sendo Campeão Paulista e incentivando o fim do Regime Militar.

Já no princípio dos Anos Noventa, surge o mais meteórico e controverso ídolo do parque São Jorge. O capítulo de Neto é o menor em duração, apesar de ser o mais intenso. O Xodó da Fiel, como era conhecido, mesmo sem possuir perfil atlético, marcou o estopim para a expansão nacional da nação corintiana.

Sempre em confronto com a balança, explosivo, chorão. Fatos não muito usuais quando analisamos os jogadores em geral. Todavia, Neto não era mais um. Com sua empatia com a torcida, raça e inteligência, ele foi o capitão do primeiro Título Brasileiro em Noventa, desmistificando a sentença de que o Corinthians era um time puramente estadual.

Os três fascículos do vasto e épico Centenário traduzem o porquê de tanta paixão. Ídolos humanos, capazes de diminuir o espaço entre idolatrados e os mortais que sentam-se nas arquibancadas em domingo de jogo. Esses três exemplos decodificam o que é o Esporte Clube Corinthians Paulista.

Clube que retrata o sofrimento, o martírio, o cansaço do cotidiano do povo brasileiro. Não obstante, traz a felicidade com que esse mesmo povo leva seu dia-a-dia no coro, uníssono e transcendente, da vitória e do gol.


Por Helcio Herbert Neto

Um comentário:

  1. Roupeiro e dirigente com mesmo peso de voto. Essa é uma das paradas mais fodas que já "vi" no futebol. Viva a democracia!

    ResponderExcluir