quinta-feira, 29 de julho de 2010

Série Marginalizados: Queixo Erguido


Para ler ao som de: Conversa de botequim - Noel Rosa

Luto no rádio. Noel Rosa,o Poeta da Vila,havia ido compor seus sambas em outras esquinas. Deixara milhares de ouvintes a afogar as mágoas em bares pelos subúrbios cariocas. Contudo,um ano depois e bem longe dali,uma grande estrela do rádio começaria a deixar o povo de queixos caídos.

Ademir Menezes ingressava na carreira de jogador. Na Ilha do Retiro, arrancava pelos campos, gerando grande espanto entre os marcadores. Inevitável seria que o craque viesse a brilhar na Capital Nacional.

Em excursão pelo Rio, Ademir despertou o interesse do Gigante da Colina. O Vasco começava a criar o maior time de sua história. Ao lado de mitológicos personagens, como o goleiro Barbosa, Queixada foi capaz de compor inesquecíveis jogadas em ritmo de carnaval.

Os lances só viam pelas ondas poluídas e barulhentas do rádio. Os ouvintes ficavam desesperados,uma vez que era comum que a narração escapasse,sumisse. Mesmo assim, Ademir Menezes e o Expresso da Vitória arrebatavam fãs em todo lugar onde havia um aparelho radiofônico.

E veja você. Com o Fim da Segunda Guerra e a Europa destruída, o Brasil sediaria a Copa de 1950. Merecido presente para uma geração habilidosa e mística do futebol brasileiro.

Com compasso de Samba digno de Noel, o Brasil botava os oponentes para bailar. O time de Ademir, Zizinho,Danilo e Barbosa conquistara consecutivas vitórias e fora considerado o grande favorito para levar a taça,que a partir daquele ano,se chamaria Jules Rimet. Menezes marcara nove gols na competição, sendo, até hoje, o maior artilheiro brasileiro em uma só edição da Copa.

Entretanto, a melancolia do Maracanazo era maior do que todas as vividas pelos boêmios em Quartas feiras de Cinzas. O País inteiro acompanhou a derrota para o time de Ghiggia nas oscilantes ondas captadas por seus aparelhos. O Brasil perdia o título e ratificava-se o complexo de vira-lata brasileiro, que só seria desmentido oito anos depois.

Embora marcado pela derrota em 50, Ademir foi um dos grandes ídolos da geração de Pelé que levou o país Canarinho à hegemonia mundial em se tratando do esporte bretão.
Ademir e Noel ilustram a Era Clássica do Rádio Brasileiro. Com a malemolência no samba e o ritmo dos gramados eles representavam o povo Verde e Amarelo. Pessoas que choram suas misérias nos bares, mas que acordam antes do galo cantar no dia seguinte. Boêmios que têm pormenores em seus caminhos, mas os encaram assim: de queixo erguido.

Helcio Herbert Neto

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