quarta-feira, 4 de junho de 2014

Aos derrotados



 Para quem perde, a Copa do Mundo também é inesquecível. (site oficial do Atlético de Madrid)

 

Para ouvir ao som de Beck - Loser

Toca uma música batida. De cima, chegam os outros barulhos que vão ficar na memória daqueles que não conseguiram ascender ao Olimpo dos vencedores. A presença das autoridades ronda os outros, os que alcançaram. Os poderosos negligenciam quem vem do lado oposto, cabisbaixo, após ter tentado – ou não – tudo o que era possível. Bem como a multidão, que ignorará aqueles homens em todos os dias a partir de agora.

Geralmente é “We are the Champions”, do Queen, a canção que serve de tema para o sofrimento inicial dos derrotados. Não é uma música fraca, pelo contrário. Por ser tão repetida, contudo, tornou-se enfadonha. É reproduzida nas finais de quase todos os campeonatos do mundo. Muitas vezes, em mais de uma competição do mesmo país em uma só temporada.

E é o começo da dor do time derrotado. O vencedor nem nota. É a hora do êxtase, do prazer supremo que é consequência de um esforço de anos, décadas. Dedicação parecida com a apresentada pelos oponentes, que nunca serão reverenciados. Seria assim com o Atlético de Madri, caso eles não tivessem erguido o troféu nacional na Espanha.

Aconteceu com a Alemanha de 2002. Desafio quem, por distração ou falta do que fazer, veio parar nesse texto, elencar cinco jogadores germânicos que estavam em campo quando o time brasileiro ganhou a Copa. Como todos os vice-campeões, até a véspera da decisão do mundial, eles tinham os mesmos méritos que aqueles que entraram para o panteão ícones do esporte. Hoje, estão distantes da recordação.

Em vez dos tapinhas nos ombros, eles encararão o escárnio ou a pena, todos os dias, das pessoas que por sorte ou azar os encontrarem nas ruas. No mínimo, um sorriso no canto de boca. Barbosa, goleiro da Seleção de 1950 sabia disso. Zico, o personagem que perdeu um pênalti contra a França, em 1986, e não conseguiu empatar o jogo contra a Itália, 1982, também deve saber o quanto dura essa chaga.

Isso para ficar somente com os casos brasileiros. Daqui a menos de uma semana, começa talvez a maior celebração dos derrotados do esporte. Diferentemente da Olimpíada, único evento do tamanho da Copa, somente uma equipe representando uma nação conseguirá o ópio da vitória diante da cobertura midiática do mundo inteiro.

Alguém já disse que o futebol é a coisa mais importante entre as menos importantes da vida. Confesso que não sei a identidade do autor. Posso, entretanto, concluir que ele tem a perfeita dimensão de um derrotado: porque somente quem foi vencido nos campos tem a ideia de como é difícil conviver com a certeza de uma meta agora inalcançável – com o ar sufocante da derrota.

Por Helcio Herbert Neto.

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