sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A Confissão ou Chico das ruas

(Internacional/Divulgação) A decisão certa de Francisco resultou na sua ausência na próxima rodada do Campeonato Brasileiro.


Francisco Carlos Nascimento, juiz da partida do Inter contra o Palmeiras, no último fim de semana, acertou, algo raríssimo nos últimos anos do futebol. A presença de um sem-número de câmeras somada aos interpretativos e poucos conclusivos regulamentos do esporte que chuta a bola emitiu um atestado de incompetência para todos os juízes. E o Chico rasgou-o documento, fez o certo. Como? 

Tudo indica que com a ajuda da tecnologia. O delegado Gérson Baluta parece ter se utilizado da informação  obtida com repórteres à beira do campo. Se utilizou dos instrumentos que a humanidade (em sua errônea e longa caminhada...) conseguiu desenvolver para ajudar a decisão de um solitário, bem-alimentado e aflito colega entregue ao som de urros de mais de duas dezenas de machos famintos. Fez o certo. Pena que contrariou a idônea e inquestionável FIFA.

Uma entidade que, além de toda a corrupção, da qual não falaremos aqui ("esquecimento" raro neste empoeirado e mal-criado blog), ainda é omissa e inerte. Que abaixa o queixo para não ver como as novas tecnologias ajudariam o futebol. Obsoleta como uma foto de lambe-lambe. O que o bravo Chico fez foi, acima de tudo, um ato de honestidade. Honestidade cristalina, subversiva e natural.

(Prefeitura/Divulgação) O trabalho de um chico custou-lhe um prejuízo inestimável.

Francisco teve a sensação dos ambulantes e camelôs. Não possuem aval das autoridades, mas têm o choro do bebê em casa, uma família para cuidar. Muitos roubam, erram sabendo. Chico não. Se os poderosos afrouxam, neste exato instante, o cinto da calça após o lanche da tarde, é hora de atacar, de manter-se vivo, até que eles se sintam incomodados com o cheiro de quem não lhes oferece o sangue em subserviência. Pode parecer uma visão idealizada, e realmente é. O que seria de nós sem nossos santuários.

O resultado de sua altivez: está fora da escala de árbitros nos jogos da Série A na próxima rodada do Brasileirão. Culpado sem provas. E se houvesse confissão, nada haveria a perdoar. Chico fez o que seus homônimos fazem todos os dias nas ruas. Eles não compactuam com o erro que vem de cima. Tentam, com os ombros, fazer o melhor possível. Com a atitude tomada no instante crucial do gol de Barcos, a comitiva de arbitragem ali presente arrombou uma porta, deu início à uma combustão que demoraria décadas para ser iniciada. A privação de agora pode representar, em um futuro próximo, o nascimento de uma nova burocracia do futebol, sem descomposturas, sem pactos escusos e com o auxílio das mais avançadas tecnologias. Morre nasce trigo. Vive e morre pão. 

Por Helcio Herbert Neto.

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