quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Nacional X Estrangeiro

Charge retirada do Lance!

A temporada do futebol brasileiro chegou ao fim e todas as atenções se voltaram para o Mundial de Clubes, sob o qual se criou tanta expectativa ao longo do ano. O Santos abriu mão do campeonato nacional para se concentrar no maior desafio do clube nos últimos tempos. Vencer o irritantemente perfeito Barcelona e se consagrar campeão do mundo pela terceira vez – a primeira desde Pelé.

Desse cenário, surgem as mais variadas discussões e uma gama de personalidades que nelas se envolvem. E os debates, numa visão mais amplificada, não se apoiam em argumentos táticos ou em números, como os “futebólogos” de plantão gostam; quase sempre partem para um tópico que transcende – e até por isso nele se aplica tanto – o futebol: Nacional x Estrangeiro.

No discurso popular, não há um contraponto, como a antropologia gosta de fazer. Não existe balança. Há sempre uma espécie de consciência coletiva (nem tão consciente assim) que nos faz acreditar que somos sempre piores como sociedade. Nossa rica cultura de miscigenação é recalcada nesse grande cérebro coletivo para dar lugar a idolatraria do produto estrangeiro.

É lá fora que estão as grandes multinacionais, que se fabricam os grandes objetos de desejo, que existem hospitais de primeiro mundo e onde o povo é educado de verdade. E perpetua-se, assim, o discurso de inferioridade generalizado que só diminui o tom quando o assunto é esporte e, obviamente, futebol.

Sempre defendemos o futebol brasileiro com todas as forças, tivemos certeza que os melhores jogadores da história são nossos e batemos no peito para dizer que somos pentacampeões mundiais. Curioso é observar que, com a globalização e os recentes fracassos da seleção, surge um movimento de pessoas que aprecia outro tipo de jogo, que gosta de disciplina tática ou que simplesmente valoriza mais os campeonatos estrangeiros.

Do outro lado, porém, há uma horda de críticos a essa gente e que, cansados do referido discurso de inferioridade, exaltam a superioridade do futebol nacional custe o que custar.

Com Barcelona e Santos em evidência e prestes a fazerem o confronto mais aguardado do ano, surge uma série de argumentos soltos e inconcebíveis que me fazem vir aqui colocar as coisas na balança.

O time catalão é, indiscutivelmente, o melhor time do mundo. Dizer que “queria ver o Barcelona jogar o Brasileirão” não é argumento, pois eu também gostaria de ver o Santos ganhar o Espanhol com 96 pontos e só duas derrotas. Não torço pelo Barcelona, nem pelo Santos e também não acho, como muita gente, que seria um milagre a vitória do time de Neymar.

O meu medo é que essa vitória garanta o rótulo que tantos querem de “melhor futebol do mundo”. E não é. O Santos pode vencer o Barcelona por 3 a 0 no domingo e eu continuarei achando os espanhóis melhores. Essa partida não vale nada em termos críticos, “só” a taça de campeão mundial. Ou tem como dizer que o Inter de 2006 era melhor que o Barcelona?

Não existe essa diferença abissal como muitos colocam, mas há diferença. O time de Guardiola joga o mesmo futebol encantador há muito tempo. Raramente perde, dificilmente faz uma atuação ruim, termina o jogo sempre com mais de 60% de posse e ganha títulos atrás de títulos. 

Não dá para dizer que, porque o Santos tem o futebol moleque de Neymar e Ganso, é superior. Não dá.

Futebol é futebol e um lance individual dos dois pode colocar o mundo aos pés dos meninos da Vila, mas vamos repensar essa história de melhor futebol do mundo. Nós revelamos muitos craques, mas podíamos revelar mais. Nós somos superiores em mundiais, mas poderíamos ser mais. Somos o maior país a ter o futebol como esporte número um, então somos “obrigados” a ser melhores nisso.

Ficamos tão traumatizados com o tal discurso coletivo de inferioridade que enchemos o nosso ego no mundo da bola como válvula de escape, até não poder mais. É preciso pensar. O que é o “melhor futebol”? E também, claro, o que é uma sociedade mais desenvolvida?

Por Beto Passeri.

4 comentários:

  1. Concordo com quase tudo que você falou, mas acho que é difícil pensar em uma vitória do Santos por causa de sua zaga. Eu não acho nenhum absurdo o Neymar fazer 2 ou o Santos fazer 3 como você falou, mas com o que o sistema defensivo do Santos jogou no Brasileirão, eu não enxergo o Barcelona fazendo menos que uns 3 gols também.
    O Muricy falou que o Durval teve dificuldade porque o lado direito do Kashiwa era forte com o Sakai. Imagina quando pegar o Barcelona com Daniel Alves. Não que ele seja um fenômeno, mas é bem melhor que o Sakai.
    Talvez o Santos com uma zaga mais bem armada tivesse mais chance, se tivesse o reforço de alguns jogadores até do próprio Brasileirão poderia jogar uma partida mais equilibrada.
    Mais infelizmente quem tem dinheiro para comprar os destaques no Mundo são eles, e não nós.

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  2. Alô Beto,boa tarde!Existe realmente uma diferença,não sei se abissal,mas,certamente determinante,entre o que vemos acontecer no Barcelona e o que temos por aqui e este é o lado ruim do nosso futebol.Lá,quando o termo "projeto" é usado,ele se refere à pensar o futebol num prazo mais longo,em investir hoje para se colher,quem sabe quando,não existe uma preocupação tão imediata com o resultado e isso permite um trabalho mais consistente e que gera frutos mais sólidos do que este ou aquele campeonato somente.Para este time encantar,houve um trabalho que começou a muito tempo,pensado para cada jogador e suas necessidades e talentos e para o grupo,que embora tenha estrelas não tem estrelismos.
    Por aqui ainda somos muito apegados ao agora,queremos tudo para ontem,troca-se de técnico como quem troca de roupa,a cada campeonato é uma feira livre de jogadores,ninguém fica tempo suficiente para se construir algo que realmente dure.Claro que a nossa realidade é diferente,temos,talvez,outras necessidades e todo esse blá blá blá que alguns especialistas usam para explicar "a dinâmica do nosso futebol".Fato,amigo,é que,embora não consiga gostar do futebol que se joga lá fora,sou obrigada a reconhecer o talento,tenha a nacionalidade que tiver e o profissionalismo com que eles lidam com o esporte e sem dúvida que gostaria de ver por aqui algumas iniciativas que todo mundo sabe que funcionam mas dão trabalho para implantar.
    Quanto ao jogo de domingo,mesmo que o Santos metesse 5X0 no Barça,não daria para dizer que ele é melhor que o time de Messi e companhia.
    O nosso tão decantado complexo de inferioridade que no futebol tem a sua revanche,é antigo e bem mais complicado do que aparenta,vc conhece um texto chamado "Apolo versus Dionísio no campo da história:O futebol em Gilberto Freyre" de Thiago Maranhão? Se conhece sabe que o buraco é mais embaixo,se não,dá uma lida e depois me fala.Basta por no Google o nome do autor que vc acha.Abraços,Anna Kaum.

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  3. Bom dia,Beto!Ontem,enquanto eu escrevia aqui,o "caldeirão" no Vasco já fervia e hoje não pude deixar de usar o que aconteceu para exemplificar melhor as diferenças que nos separam do futebol estrangeiro.
    Desde a saída de Dorival Jr,que já reclamava e apontava os mesmos erros,que o Vasco roda atráz do próprio rabo feito cachorro louco,por conta da falta de profissionalismo nas divisões de base.Agora quem pediu o boné foi Rodrigo Caetano.
    É este tipo de postura dos dirigentes brasileiros,que não conseguem ou não querem ver,que certas coisas são mais importantes que outras,que acabam por não permitir que o futebol e os clubes,no Brasil,se desenvolvam tanto quanto poderiam.Perder um profissional como Rodrigo,mais do que responsável por grande parte desta nova cara que tem encantado até quem é declaradamente rival,foi prova cabal da falta de visão.Admiro e reconheço os méritos da gestão de Roberto Dinamite a frente do clube,mas,esta atitude foi a "pisada na bola" mais decepcionante de sua carreira e mostra como o gerênciamento do futebol,por aqui,ainda tem ranços de um amadorismo inacreditável.É na hora que o juíz apita e a bola rola,que vemos o resultado disto,principalmente se o parâmetro forem clubes estrangeiros.
    Mesmo que o Santos seja o Santos e a sorte se sente no meio do campo e decida gargalhar para Neymar,Borges,Ganso e companhia,as diferenças ainda estarão lá.
    O que é mais triste é que talento temos de sobra mas não basta,há que se ter inteligência,e não só pelo que houve no Vasco,mas,provas da estupidez dos nossos dirigentes,pipocam todos os dias.Abraços,Anna Kaum.

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