quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Reencontro



O relógio passa em um ritmo incessante. Poucas são as chances que temos de recordar o passado, reviver os grandes momentos que, após longos períodos, tornam-se etéreos. A imaterialidade dessas memórias perdidas fazem com que as situações vividas passem, muitas vezes, despercebidas, como se nunca tivessem acontecido. Pessoas que outrora compartilharam experiências formidáveis tornam-se, com o correr do calendário, meros conhecidos. A mudança no papel exercido pelas personagens da vida real é ainda mais abrupta quando observado o caso de relações mal-resolvidas; aquela que antes fora protagonista passa pela posição de vilã e, após alguns poucos e demorados anos, hoje carrega o amargo papel de coadjuvantes.

Entretanto, algumas vezes ocorre um lapso capaz de romper a inércia. Pode acontecer em uma quarta-feira chuvosa, durante uma carona ou em qualquer fila do pão nas esquinas da vida. De súbito, como em um ato de vidência do passado, um olhar e um sorriso mostram-se familiares. Aquela estranha, que por vezes foi vista no corredor e respondida com um mero aceno, evoca lembranças de bons momentos. Acima de qualquer aspecto, voltam à tona as mais belas nuances de uma doce amizade.

Foi uma experiência semelhante a essa que os espectadores de Santos e Botafogo tiveram o prazer de sentir. Após meia década de brigas conjugais com os bons resultados, a Vila de Pelé recebeu um confronto de Alvinegros exuberantes. Um Santos com o artilheiro do campeonato e a maior promessa do futebol mundial enfrenta o time com o mais vistoso padrão tático e o jogador de mais identificação na realidade brasileira. Além de Neymar e Loco Abreu, o que os torcedores puderam assistir foi um dos mais belos lapsos de memória do futebol nacional: ali estavam presentes, indiretamente, Pelé, Garrincha e a antiguidade áurea da Mitologia Futebolística.

Dois emblemas que andaram por baixo na segunda metade do século passado, assombrados por fantasmas da imponência de seus passados e da incompetência de seus dirigentes. Dois times dispostos a garantir vaga no hall dos maiores da História. O resultado desse embate épico foi um show de habilidade. Com uma pintura do Camisa 11 santista e mais um gol saído dos pés de Borges, o time da Baixada Litorânea Paulista conseguiu arrancar os três pontos.

Embora longe da disputa pelo título brasileiro, o Santos conseguiu recuperar a eficiência e ganhar do Time da Estrela Solitária. A moral do Santos se eleva e aumentam as expectativas para o Mundial de dezembro, quando o inimigo vestirá azul e grená e será muito mais potente. Do outro lado, o Botafogo perde a chance de assumir a liderança a oito rodadas do fim. Não obstante, segue na briga pelo mais disputado título nacional das últimas década

Acaba o jogo. Torcedores retomam suas atividades, como se nada houvesse acontecido. Depois desses instantes mágicos de futurologia histórica restam apenas a dúvida. Existirá no futuro oportunidade de consertar os erros e reviver, de certa forma, os bons momentos do passado? Não se sabe. A única coisa que inquestionável é a relevância do que já foi vivido. Isso sim não poderá ser esquecido nunca.

Por Helcio Herbert Neto.

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