sábado, 10 de setembro de 2011

Politicamente incorreto


Desculpem, mas que creio não estar bem preparado para o jornalismo vigente no mercado. É que, de tanto se falar em "ética jornalística" - um termo, por si só, contestável - a expressão contaminou a cabeça dos profissionais de tal maneira que chegamos ao ápice da "Era do Politicamente Correto".

Só o que consigo observar, e que é um tanto contraditório, é um distanciamento enorme entre a palavra do blogueiro, comentarista, etc, e a opinião dos C.C.I (Consumidores Compulsivos de Informação), ou seja, vocês (nós). A hipocrisia que o racicínio jornalístico impõe a si mesmo, essa censura de "pensamentos maus" leva a textos e discursos fracos, sem poder algum de convencimento e que acabam irritando a todos.

Trazendo, como sempre, a palavra para o futebol, vou falar de brigas em campo. Posso ser linchado em praça pública, mas não serei hipócrita: todo mundo gosta de ver uma confusão no futebol. Todo vascaíno foi à loucura quando o Pedrinho fez embaixadinhas contra o Flamengo, todo corinthiano teve um orgasmo com o malabarismo do Edilson contra o Palmeiras e ninguém ficou preocupado quando o circo pegou fogo depois. Pelo contrário, cada torcedor tomou as dores da sua equipe e cada empurrão pra lá foi motivo de comemoração.

É óbvio que tudo tem seu limite, que eu não sou a favor de polícia entrando em campo, pancadaria rolando solta em estádio de futebol. Mas quem já jogou bola (talvez venha daí a falta de tato de alguns profissionais) sabe que discussão acontece, provocação faz parte e o pau quebra de vez em quando, inevitavelmente. E o torcedor gosta de ver, como qualquer pedestre para pra apreciar um mínimo princípio de confusão na rua.

Mas estamos naquela Era, lembram-se? Nos vemos diante de um Flamengo e Corinthians que, por si só é um jogo quente, ainda por cima valendo "seis pontos" na briga pelo título Brasileiro. O estádio lotado, a torcida inflamada, a catimba rolando solta, jogadores se provocando ao pé do ouvido, o Flamengo em má fase, a cabeça a mil e, de repente, Gustavo dá um soco na barriga de Liédson. "A calamidade toma conta do futebol, o despreparo dos jogadores é muito grande, o telespectador não quer ver esse horror...".

Sejamos mais razoáveis. Não estou aqui para defender a atitude do Gustavo (que foi o que me motivou a escrever sobre o tema), nem para dizer que brigas são legais. Mas, certa vez, um professor de Antropologia me ensinou que qualquer fenômeno (rituais, costumes, etc) nos parece estranho se isolado de seu contexto histórico-cultural. Como pareceria estranho a um índio que batêssemos palmas diante de um bolo pegando fogo, se não explicássemos o que isso representa (e pensando por esse lado, quão patético é o Parabéns, não?).

Bom, o fato é que desde quinta venho lendo matérias e posts - como este do Sidney Garambone (que escreve coisas interessantes)- que me soam um pouco vazias, descontextualizadas. Assim como é descontextualizado o jogador ir ao STJD para ser julgado, tal qual um criminoso, podendo pegar doze jogos de punição. Se os árbitros viram, é expulsão; se não viram, é suspensão no próximo jogo, talvez nos próximos dois. Mas este teatro todo?

Um pouco mais de bom senso, um pouco mais de pelada nos fins de semana e muita gente vai começar a perceber que o futebol é mais humano do que qualquer outra coisa.


Por Beto Passeri.

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