Fim do Campeonato e chega a hora daqueles que se esconderam durante todo o Brasileirão aparecerem com as previsões. Com a disputa restrita a duas equipes, os cronistas clarividentes têm maior chance de acertar e lançam suas apostas: os mais conservadores ignoram a alma que envolve o time de Dedé, Juninho Pernambucano e Felipe e apostam no Corinthians; os outros vão contra a estabilidade do metódico time que permaneceu na ponta a maior parte da competição e, fascinados pela ascensão do Vasco, preveem o time Cruzmaltino como o Campeão Nacional de 2011. Para mim, a banca já fechou. Meu palpite já foi dado em postagens anteriores e não convém repeti-lo sob a cornetas do apoteótico final do primeiro Campeonato Brasileiro dos Clássicos. Minhas previsões hoje são sobre temas muito mais fáceis de acertar.
Em mais um espetáculo televisionado, a Rocinha foi ocupada. Novamente sobe a bandeira nacional, renovam-se os votos por uma Olimpíada Pacífica no Rio de Janeiro e a popularidade do Governador tenta tornar a subir após meses de decadência. Adotando a tática americana de 'Guerra ao Terror', Sérgio Cabral vai invadindo esses Iraques e Afeganistões que temos nos morros por aqui. E nessa hora surge o velho discurso da chegada do progresso nos jornais, televisões e páginas da internet.
'A Rocinha é Nossa', anunciava O GLOBO no auge da euforia da ocupação, proclamando a Boa-Nova da chegada do Estado na Favela. O exército de mão-de-obra que acorda ainda pela madrugada e vai trabalhar, principalmente pelas ruas da Zona Sul e da Barra da Tijuca, muito próximas à favela, é esquecido pelo editor do jornal mais poderoso do Rio de Janeiro. Segundo a manchete do jornal, aquela gente não era carioca, não era brasileira. Somente com a chegada da força, representada pela 'pacificadora' Polícia Militar, é que aquela multidão teve seu passaporte brasileiro aceito.
E é a partir de agora que começam as previsões nada esotéricas sobre o futuro da gente do morro. O Rio de Janeiro começa a resolver uma questão crucial para o mercado imobiliário. Diferentemente de outros municípios, o Rio não possui uma periferia bem definida. Isso causa a desvalorização de imóveis de classe média, além de náuseas na elite, que é obrigada a conviver com a realidade dura da maior parte dos cariocas. Com a chegada da Paz Armada às favelas, tendo como o mais bem-definido exemplo a recém-ocupada Rocinha, aos poucos o progresso começará a mostrar sua opressão. Por meio de um discurso de 'obras de infraestrutura', alguns moradores serão desalocados.
Contudo, essa será somente a primeira fase. Depois das obras de benefício 'público', vão chegar taxações e impostos. Nada de assustador, apenas valores simbólicos em um primeiro momento. Entretanto, com o passar do tempo, esse valor vai aumentando, bem como o valor dos imóveis na região. As propostas pelas casas que restaram será irresistível para aquele povo que sobrevive com mínimos salários. Como resultado da Ocupação Policial, acontecerá uma marcha para o oeste da cidade, onde o padrão de vida é inegavelmente mais barato.
Políticas para os bairros pobres da Zona Oeste e da Zona Norte não há. Transportes, moradia, educação, saúde permanecerão estagnadas. Os ex-moradores das comunidades ocupadas vão se aglutinar em regiões que não lhes oferecerão uma vida saudável. Dessa forma, acaba o processo de higienização da Zona Sul e dos bairros de classe média da Zona Norte que teve como estopim, como energia de ativação os espetáculos esportivos. A vida da parte mitificada do Rio de Janeiro fica cada vez mais bonita: menos pobreza, menos fome, menos constrangimento pela dor alheia. Resta apenas a paisagem extasiante e a brisa fresca do mar.
Seria um triste fim para a convivência que originou, entre outras coisas, a Bossa Nova e o amor incondicional pelo futebol. Não obstante, tudo aqui escrito não possui consistência teórica ou comprovação dos especialistas internacionais em futurologia. São somente palpites, divagações. Ainda há gente que acredita em Cartolas, Políticos e justiça social nas terras de São Sebastião. E quem sou eu pra destruir as esperanças dessas pessoas.
Por Helcio Herbert Neto.